Artigo

A terceira guerra mundial

“Vivemos a terceira guerra mundial, mas em fragmentos”, disse o papa Francisco ao despedir-se da Coréia do Sul. Referiase, está claro, a guerras locais, a invasões, a misericórdia do homem para com o seu semelhante.

Assim ainda o mundo – e nessas condições ainda temos de reunir coragem para resistir e prosseguir e acreditar em redenções.

Dias atrás, ao errar a vista por títulos de livros enfileirados, dei com velhos conhecidos.

Nada melhor do que reencontrar amigos e, com eles, aos ardores da juventude. As esperanças, os ideais. Ensinaram-no a ter ideais a nós, da geração que passa.

Eis Roger Martin du Gard, romancista francês. Está mudo.

Escreveu um roman-fleuve, Os Thibault, sobre o advento da Primeira Guerra Mundial. A crônica de uma família, o estupor de um país civilizado diante da catástrofe. O jovem Jacques vai para a guerra. Morre nas trincheiras!

O romancista discute teses humanistas. Naquela época, o cinema de arte e a literatura de ficção nos recrutavam para um futuro de paz e solidariedade. Era preciso crer. O mundo podia, e com certeza seria melhor.

Russos abraçariam americanos, e vice-versa. No romance As Vinhas da Ira, filmado por John Ford, Rosesharn, recém-parida, oferece o peito a um desconhecido faminto.

No entanto, vieram guerras mas genocidas, armas pesadas saíram da tecnologia da guerra. As guerras de hoje, travadas a distância, são mais letais e cruéis. A de 1914-1918 foi quase corpo a corpo, bem menos covarde.

Algo de novo no front ocodental?

Não há mais um Henri Barbusse para responder. E o que dizer de outro romance-rio, Jean-Christophe, de Romain Rolland, que lemos vorazmente? Todas as obras-primas foram compêndios de ilusão. Francisco também se sente logrado.

Toda uma nova geração desaprendeu a crer. Agarra-se ao agora, ao efêmero, começa a achar que tudo é permitido. Enganada não por falsos valores romântico, senão pela maldade senhora do mundo.