Artigo

A vaca tossiu sem demora

A vaca tossiu – e como! Continua engasgada talvez o Congresso, para qual o “governo novo” enviou medida provisória (MP) que limita direitos trabalhistas e previdenciários, consiga ministrar-lhe um lambedor.

Depende da oposição. Mas essa oposição terá fôlego para conter as manobras fi siológicas do outro lado, do tipo “é dando que se recebe”? No mais aceso da campanha, quando o tucano Aécio praticamente nivelou-se à candidata situacionista na intenção de votos,
ela declarou que jamais adotaria, se eleita, “medidas impopulares” atribuídas ao adversário. E mais: era contra um ajuste fi scal que desgastaria o programa em que o seu partido tanto de estriba.

“Nem que a vaca tussa”, ela disse, permitiria reformas nos direitos trabalhistas. Mas o que significa a palavra deste governo? Cerca de 54 milhões de tolos e interesseiros
acreditaram em mais uma mentira.

Uma das primeiras atingiu exatamente direitos trabalhistas consolidados. Restringiu na MP o acesso ao seguro-desemprego e reduziu o abono salarial (PIS), transformando o primeiro emprego em façanha.

Foi além: mexeu nas regras para a concessão de pensões. Tornou ínvia a caminhada dos jovens e dos idosos. Quanto ao corte dos gastos do governo, incluindo os cartões corporativos, nada.

Nem que a vaca tussa.

O ano começa com estes “choques de gestão” condenados na plataforma eleitoral dos tucanos. O que esperar, a partir dos sinais de que o prometido “governo novo” trama
nas suas religiões sigilosas?

Resta saber o que farão os sindicatos, já manifestaram sua contrariedade. Fica a impressão de que talvez aguardem o fi m desse “recesso” nacional até o reinado de Momo, e o retorno do Congresso, para uma reunião mais explicita.

Sob este prisma, 2015 traz ameaças. Não somente o contribuinte pagará contas que não contraiu, como sofrerá os efeitos da farra alheia. Pessimismo? Pode ser, mas
pessimista ao menos não se deixa surpreender.