Artigo

Máscaras

Carnaval… Adereços, samba no pé. Muitos preparam a fantasia pra cair na folia. Alguns dias de vibração e euforia. Confete, serpentina, agitação. Desejo uma boa festa para aqueles que gostam desse tipo de manifestação. Eu não gosto, mas respeito a opção de cada um. Providencio a fantasia da minha filha com carinho e procuro estimular o lado sadio dos festejos de Momo, embora eu mesma só me sinta segura porque sei que ela vai brincar apenas na escola e com o pessoal de sua idade. Encontro um bom motivo para a reflexão. Já que estamos no carnaval, vamos falar um pouquinho sobre máscaras.

Dias atrás atendi duas gestantes. Ambas desejavam entregar os recém nascidos para a adoção. Tanto uma como a outra já possuíam filhos. A primeira me procurou abatida, dizendo que a gravidez lhe havia surpreendido e que não sentia o bebê como sendo seu; não tinha por ele afeição e dessa forma acreditava que estaria melhor junto de alguém que pudesse realmente amá-lo. Ela não conseguia explicar exatamente porque não havia se envolvido afetivamente com a criança durante a gestação, mas sabia que isso era fato, então abria mão de seu poder familiar em relação a ela, desejando- lhe boa sorte junto de outra mãe. Ela não chorou nem sorriu, apenas fez o que seu coração pediu que fizesse.

A segunda gestante chegou toda arrumada e dizia estar tomando uma decisão muito difícil. Afirmava estar carregando um peso enorme em função da culpa que já sentia por entregar o seu bebê. Derramou lágrimas e fi cou em posição pensativa por vários minutos, afirmando inúmeras vezes que, embora fosse difícil, isso era o melhor a ser feito pela criança. No passado havia abortado outro bebê. Como evocava o arrependimento lhe foi dada a opção de retomar a criança, o que ela prontamente recusou. Chorando, fez o que julgou ser mais conveniente.

Quem vocês imaginam que estava usando máscara? A mãe que afirmou desejar entregar seu bebê para a adoção porque não lhe tinha afeição ou aquela que chorava e dizia se sentir culpada e arrependida, embora tenha se recusado a voltar atrás quando lhe foi oferecida a chance de retomar seu bebê? Obviamente, não podemos nos deixar guiar apenas pelas aparências e lágrimas. É por isso que a Palavra diz que Deus sonda as intenções. Em época de carnaval, usar máscaras é comum. Na vida, por incrível que pareça, também.

A primeira gestante saiu de cara limpa, reconhecendo a sua incapacidade de amar aquele bebê. A segunda, no entanto, mesmo com sua choradeira queria apenas passar por abnegada quando na realidade agia com intenção egoísta, buscando se favorecer, como havia feito anos atrás procedendo ao aborto. A entrega não estava sendo realizada com a finalidade de beneficiar o bebê, e sim a si mesma. A máscara caiu quando lhe ofereci a criança de volta e recusou. Doeu para ela perceber que não conseguiu convencer acerca de seus bons propósitos em relação ao bebê, no entanto, o intuito foi lhe proporcionar a reflexão e o amadurecimento, pois é bem provável que um dia lhe restem contas a ajustar.