Artigo

Heranças fascistas

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) revelou pacifistas famosos. Quatro grandes escritores se destacaram: Roger Martin duGard, Romain Rolland, Henri Barbusse, Stefan Zweing. Lutaram pelo sonho da unidade espiritual da Europa, foram ativistas, à exceção talvez do austríacoZweing, que estava para testemunha desesperada.

Foi uma guerra de corpo-a-corpo, de baioneta. A mais cruel de todas. Soldados famintos, maltrapilhos e enfermos, na lama de trincheiras infectas tentavam impedir o avanço do “inimigo”, com quem, em outras circunstancias, beberam cerveja em grupos fraternos.

Nenhum daqueles escritores e outros pacifistas admitiram a eclosão em breve de uma segunda guerra (1939-1945), de todos contra todos. Esta, muito mais destruidora, envolveria cidades, populações inteiras, genocídios resultantes de ódios raciais, massacre de minorias, anexações de países indefesos.

Espezinhada no Tratado de Versalhes, com inflação e desemprego galopantes, a Alemanha descobriu em Hitler o líder carismático. Aos discursos em cervejarias sucederam as tropas de assalto nacional socialistas, armadas de cassetetes, os tumultos de rua, assassinatos, alianças previamente rompidas, disseminação da mentira e do cinismo mais aviltante, luta de classes.

“Um grau de desumanidade”, disse Zweig, inimaginável nos tempos de hoje, chegou até nós, sofisticado pela tecnologia. Método fascista, megalomanias, busca do poder a qualquer custo. Os que financiam tais movimentos sempre escapam de Nuremberg, enchem mais as algibeiras.

Nossa geração herdou esse legado de dissenção da ordem e da legalidade. A Europa que colonizara tantos povos ingênuos, ainda busca a sua unidade espiritual que sequer a moeda única consegue vislumbrar. O mais grave é que as nações subdesenvolvidas permitem, como os estadistas europeus de um século atrás, a importação do perfi l nazista. É o que se observa na América Latina. Não adianta dar nomes aos bois.