Artigo

Uma terra devastada

Lava-se a jato. Se não afastarem o dono do posto, juiz Sérgio Moro, e não calarem a Policia Federal, em breve chegaremos, como os reservatórios de água, ao volume morto, onde políticos e empresários enterrarem contas secretas das propinas milionárias do petróleo.

O cidadão comum que nada tem a ver como escândalo e é punido como o estouro no preço dos combustíveis e energia, sofre calado, por enquanto. Falta água nas torneiras, no sudeste. Água potável, água para lavar roupas, fazer comida, tomar banho.

Quando a água escasseia, a energia que ela movimenta nas hidrelétricas introduz os sobressaltos dos apagões. O país está despreparado para essas crises. Sem planejar com muito empenho e velocidade, a curto, médio e longo prazo, se deixa surpreender.

Este verão promete ficar na história dos descalabros. O Brasil passa a imagem de terra devastada, desorientada, desgovernada. O governo silencia porque mentiu e se omitiu, ou não teve pulso para impor o que devia. Os áulicos apelam ao sobrenatural, ameaçam a população com rodízio e racionamento.

O contribuinte paga duas vezes, muitas vezes pelo serviço mal prestado, pelas falhas e estagnação dos serviços básicos. É simples governar assim, sempre com a mão no bolso alheio.

Teremos um verão apocalítico? Baudelaire, um grande poeta, tinha visões medonhas que arrancava da alma atormentada. Disse que o mundo ia acabar (le monde vafinir). E que, nas incertezas da animalidade geral, os governos adotariam para se manter um simulacro de ordem, recorrendo a meios que abalariam a mais empedernida humanidade atual.

Mas os poetas fingem, disse Fernando Pessoa. Ou mentem, asseveram experientes. De modo que, se o verão apocalíptico vier, vamos pedir-lhe que o deixe o carnaval passar. É no carnaval que o povo desafoga as mágoas, solta os instintos. E ainda há economistas com fé no Brasil: O americano Nouriel Roubini, apelidado “Sr. Apocalipse”.