Artigo

O silêncio dos inocentes

Mais do que uma simples questão de modismo, discutir o problema da infância é um convite para se percorrer um duro caminho onde a constante é a dor. O problema da infância é consequência de fatores díspares quanto a corrupção e a insensibilidade dos que dispõem de maiores e melhores oportunidades, má distribuição de renda e recurso, falta de políticas mais adequadas por parte do estado e de organizações civis.

O Brasil acena que estamos gradativamente perdendo as nossas crianças. Paremos e vejamos que grande responsabilidade você e eu temos de ser bons exemplos para todas elas. Os atos de violência ocorridos no estado do Maranhão neste início de ano chamaram a atenção de todo o país e fizeram que assuntos relacionados à segurança pública e direitos humanos viessem à tona e fossem manchete nos jornais. A tragédia com Ana Clara, vítima de um incêndio provocado em ônibus em São Luiz, deixa claro que as crianças são mais vulneráveis a ataques e outras formas de violência.

A infância brasileira luta com situações violentas todos os dias, na escola, em casa, no trajeto que percorrem, na rua onde brincam, observamos que não há segurança em nenhum lugar. As crianças não podem continuar convivendo com esse cenário. Elas estão sobrevivendo a infância para morrer violentamente durante a adolescência. A mídia faz acreditar que os adolescentes são criminosos, entretanto, os dados mostram que são mais vítimas que causadores de violência.

Devemos levar em conta que no Brasil o uso da violência como método de disciplina é socialmente aceito; Em suas próprias casas, centenas de crianças são vítimas silenciosas de quem na realidade deveriam protegê-las.

A violência doméstica há em todas as classes sociais e nos contextos de pobreza e exclusão social ela se torna ainda mais nefasta, pois se somam outros determinantes sociais que impedem o pleno desenvolvimento delas. O mapeamento da infância no Brasil é que a criança não é criança. Falta-lhe muito, é preciso lutar pela sobrevivência, quando deveria estar brincando e convivendo com a família. O problema é que agimos como se vivêssemos em outro planeta. A dor, o problema, a angústia do vizinho, parecem não nos incomodar. Devemos amar uns aos outros, mas fazemos?

É importante ver que a violência contra a criança não é só um caso de polícia. É sobretudo de política social. Não há uma fórmula capaz de, por si, assegurar a convivência pacífica entre as pessoas. Mas é certo que sem justiça social, sem as ações sobre o desemprego, e sem investimentos em áreas básicas, como educação e saúde, persistirá o quadro de desigualdades, insegurança e medo que marcará o cotidiano e a realidade da infância brasileira.

O grande problema é que somos um país incoerente em relação a infância. Somos muitas vezes tentados a proclamar o que não vivemos, a apregoar o que não fazemos. Se amamos, precisamos traduzir esse amor em ações e gestos de solidariedade aos menores abandonados.

Como você, amigo leitor, analisa sua dinâmica social? Será cabível afirmar que há um quadro de imobilismo na nossa sociedade hodierna? Será que estamos fazendo tudo que poderíamos? Qual o impacto que a nossa ação vem produzindo a cada dia nas pessoas e comunidade que nos cercam?

Não terá sentido algum nos deixarmos envolver por uma compreensão meramente filosófica do problema. De igual modo, a sociologia pode ajudar-nos a compreender esse triste drama, mas também, não esgota a sua complexidade e extensão. Aliás, qualquer abordagem, seja ela de que natureza for, se desconsiderar os princípios e postulados bíblicos será falha, incompleta e ineficaz.

A nossa legislação estabelece que as crianças devem ser prioridade absoluta para o Estado. Portanto, a família enfrenta a cada dia novos e mais temíveis desafios. Mantê-la a salvo é cada vez mais urgente, exigindo de cada um mais disposição. A criança, bênção de Deus para o mundo, precisa ter na família o amparo, o sustento e o respaldo para um crescimento sadio.

É a família que melhor ensina, educa e forma. É a família que, ajudada por Deus, prepara os homens que amanhã moldarão o mundo. Da qualidade dessa ministração à criança no lar e disposição em fazê-lo, teremos dias melhores. Necessitamos também de uma ação intersetorial, superando o modo tradicional de se pensar as políticas para a infância somente nas áreas de educação, saúde e assistência social. Urge que todos os setores cultura, esporte, infraestrutura, desenvolvimento, segurança pública unam esforços para combater a violência.

ESTAMOS PREPARADOS?