Artigo

As Academias de Letras e a natureza humana

Recentemente, enquanto conversava com um amigo, o celular dele tocou e ele, interrompendo nosso bate-papo agradável, ouviu silencioso, por uns instantes, alguém que, certamente, indagava-lhe algo. Em seguida, meu amigo, altivamente, respondeu àquela indagação que se referia às Academias de Letras aqui da nossa região.

A resposta que ouvi foi mais ou menos está: “penso que se reuníssemos as três Academias aqui existentes não conseguiríamos encontrar um escritor de verdade!” E ainda, do alto de sua audaz sabedoria, além, claro, de sua rebelde imaturidade, meu amigo arrematou serelepe: “olha que estou afirmando isso diante de um acadêmico (era eu), mas, não me importo! Afinal essas Academias não contribuem mesmo para a cultura ou as letras da região!” Naquele momento, mais interessado na conversa que mantínhamos, e “cansado de correr na direção contrária”, como um dia cantou Cazuza, dei de ombros e deixei que ele desfrutasse sua crítica infantilóide.

Decorridos alguns dias, depois de ter refletido, lembrado e esquecido aquele momento pavoroso, me ocorreram alguns pensamentos soltos a respeito. Aqui estão alguns: não é toda hora que, já crescidinhos, podemos usufruir o deleite acriançado das frases impactantes, sem nenhum compromisso. Não é toda hora também que a rebeldia panfletária, inútil e ultrapassada, nos conduz a pensar que os sonhos são maiores que a realidade. Por isso, penso que meu amigo deve mesmo desfrutar, enquanto pode, sua epifania, porque no final das contas, tudo isso serão apenas bobagens!

Para espanto, quem sabe, deste amigo, informo que uma Academia de Letras não passa de uma Academia de Letras! É assim também com a Maçonaria, o Lions, o Rotary, a CDL, a OAB, o Baba Organizado e tantas outras associações. Todas são aquilo que são: Clubes de homens e mulheres que de uma forma ou de outra buscam mitigar as dores da existência e até, talvez, busquem compreender a “utilidade” da vida. Especificamente, penso que questionar o valor de uma Academia (de Letras e/ou Ciências e Artes), é tão válido quanto questionar o valor da respiração para nossas vidas.

Meu amigo falou besteira. Mas quem nunca disse uma ou várias besteiras? O bom censo indica que não devemos responder a burradas. Por que então estou fazendo isso agora? Simples: porque é muito divertido! Sendo assim, meu amigo, deixe de ficar buscando chifre em cabeça de cavalo, volte para suas leituras (elas devem ser mais proveitosas que suas frases feitas) e esqueça suas rebeldias anacrônicas. A vida é breve! Ria, fale menos, ouça mais e só participe quando puder contribuir. O mais é resto.

Gosto muito deste pensamento do professor Eduardo Mahon: “a cultura não é um nicho. Não está num local, em redomas ou museus. Ao contrário: fez ninho no sentimento popular e influencia comportamentos, opções de consumo, preferências políticas. Não estamos falando de livros, não estamos tratando de aulas, não queremos falar em erudição: a cultura é maior do que isso tudo. A cultura é um modo de vida…”

E não a adianta querer apressar as coisas. Tudo vem ao seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto. Porém, temos pressa em tudo! Ouvir dizer que a maior causa de aborrecimentos do ser humano é outro ser humano, muito embora também, a maior causa de alívio para esses aborrecimentos é também outro ser humano.

Enfim, as Academias de Letras são expressões da natureza humana. Cada pessoa é de um jeito. A natureza humana é teimosa, malcriada, orgulhosa, arrogante, bela, criativa, emocionante, idealista… Ninguém sabe nada, nada! Uma coisa, porém, é válida: estamos presos à natureza humana! Não posso, portanto, comer uma pedra, mas, posso usá-la para construir algo.