Artigo

O meu vizinho

Final de tarde de domingo. Eu me encontrava em casa, precisamente na porta de minha casa jogando conversa fora com um amigo. De repente, vem ao nosso encontro João, amigo comum e vizinho. João é uma pessoa agradável, sorriso largo, de bem com a vida. Adora comida árabe. Proprietário de uma rede de frigoríficos. Seu hobby favorito é lavar os carros que possui na porta de sua casa. Carros de luxo, claro. Uns oito, contei certa feita.

Casado com Maria, mulher dedicada à família e extremamente religiosa. Não perdia uma missa, sobretudo as dominicais, celebradas às 18h. Não raras vezes o próprio pároco ia à residência do casal, onde se fartava dos diversos quitutes por ela feitos e oferecidos, depois de uma missa reservada. Apesar de o marido ter uma frota de veículos, dirigia com dificuldades. Subir e descer ladeira para ela era um tormento. Engatar a marcha à ré, então, nem queira saber.

Em meio àquele ambiente descontraído, assim que ele chegou fui logo perguntando em tom de pilhéria, se ele fazia parte da “Operação Lava-Jato”, isto porque passou a manhã inteira lavando seus caros. Foi uma risada geral.

Então ele passou a nos contar que “certa feita possuía cinco veículos, todos sem seguro. Não me preocupava em segurá-los, dizia, porque graças a Deus dinheiro não me faltava. Se batesse, de logo o trocava. Mas um corretor de seguros, por não ter cumprido a meta mensal, insistiu com veemência para que eu fizesse o seguro de todos os veículos. Depois de muito relutar, cedi”. O corredor, satisfeito, disse-me: “a partir das 00h00min de hoje, seus veículos estão segurados”. Na manhã seguinte, minha esposa escolheu o melhor carro para ir à missa. Não deu outra! Por não observar a sinalização, bateu na traseira de um ônibus. O veículo que a seguia, também colidiu. Houve engavetamento. O Trânsito parou. A seguradora foi acionada. Prejuízo enorme e desapontamento para o corretor. Dois meses depois, resolvi comprar um veículo top de linha e, obviamente, procurei o mesmo corretor. Efetuado o seguro, todos os dias ele me telefonava para saber se estava tudo Ok com o veículo. Eu já estava irritado, a ponto de explodir. Certo dia, por volta das 23h., ele me ligou perguntando se o veículo estava dormindo na garagem? Respostei, dizendo, que quem estava dormindo na garagem era eu. O veículo estava dormindo na cama com minha mulher e bati o telefone”.

Nisso a esposa dele chegou. Ele percebeu desconfiança em nosso sorriso e a questionou: Filha, você se lembra daquele acidente? Ao que ela respondeu: Estou atrasada, leve-me à missa!