Artigo

O suicídio ou a arte de pensar

Uma vez li uma frase que o autor dizia ter medo das pessoas inteligentes, não das insipientes. É vero. Os seres iluminados pelo exercício mnemônico podem, a seu bel prazer, descortinar e descobrir mil artifícios bastante racionais para as suas elucubrações, as mais estapafúrdias possíveis! Racionalizações permitidas pelo livre-arbítrio em que estamos todos imbuídos, a bem da verdade. Falo isso porque me chocou novamente ter assistido ao filme Mar Adentro (2005), estrelado pelo maravilhoso ator Javier Barden. A película é baseada em estória real de um espanhol, da região da Galícia, Ramón, que fica tetraplégico e abre um processo contra as leis espanholas para ter direito ao autocídio. Ele não se conforma em viver, em ser um resquício do que era!

Para isso, cria magnânimos malabarismos intelectivos, além de ter uma personalidade bastante carismática e muita cultura. Relembrei os grandes clássicos da literatura e da filosofia que já abordaram o tema do suicídio. De chofre, alguns me vêm à memória: O Sofrimento do Jovem Werther, do poeta alemão Goethe; e Anna Karenina, do russo Tolstói. O velho Shopenhauer também se notabilizou – com o seu pessimismo característico – sobre o assunto, aliás, típico de todo niilista inveterado. Isso para não falar do materialismo dialético, que infelizmente criou os paradigmas científicos que até hoje as academias mundiais não conseguem romper! Mas, somos espiritualistas. Não só eu, como 95% da população mundial também o é. De sorte que não falo a estes e, sim, aos 5% do restante, que não crê em nada! Aliás, o nada, como figura jurídica ou filosófica, nem sequer existe ou se representa… Mas vamos lá. Partindo dos pressupostos materialistas, o autocídio é a saída para todos os males.

Matou-se, acabaram se os problemas, as angústias, as depressões, os desamores, as crises. Não se terá contato mais com familiares, amigos, conhecidos. Nada mais restará senão a escuridão total. O fim. Na minha inocência cognitiva, é até difícil de acreditar. Para ser ateu, é preciso muita labuta, muito esforço, muita dedicação, porque não crer em absolutamente nada despende uma boa quantidade de energia e tem que se ter um bocado de fé! Acreditando-se em tal mister, nega- se todo o conhecimento da humanidade ou credita-se a ele contos da carochinha: do primeiro livro recebido no Monte Tabor (As Tábuas da Lei, por Moisés) até a curvatura do espaço tempo (Teoria da Relatividade), confabulado por um carimbador de selos de patentes! Conhecimento este até então desconhecido para o planeta! Desconsidera-se também os rituais e a cultura egípcios, a religião hindu e búdica, as pitonisas gregas, o daimon socrático, a Torah, o Talmude e a Cabala judaica, a vinda de Jesus, com todo o arsenal de ensinamentos, curas, manifestações espirituais, os ditos “milagres” etc., os profetas, os magos e as bruxas da Idade Média, os médiuns da contemporaneidade a partir de Kardec…

Todo um arcabouço de sabedoria que está arquivado em nossos inconscientes e nas bibliotecas do orbe! Ser ateu e crer no nada dá um trabalhão danado! Tem que estar o tempo todo negando as descobertas científicas, como as da física quântica, por exemplo. Fechando os olhos para a filosofia platônica ou de Agostinho ou Tomás de Aquino. Desconsiderando a vida e obra de Martinho Lutero, Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Samuel Hahnemman, Sathya Sai Baba, Irmã Dulce, William Crookes, entre tantos. Abdicando da volumosa obra de Chico Xavier, 415 livros ditados espiritualmente, um quase analfabeto que cursou só até a quarta série primária, sem receber um centavo de tais obras.

Creditando aos gênios de todas as Artes a configuração de bons genes somente, enfim! Por sua vez, partindo dos pressupostos espiritualistas, há vida antes e após a morte. A maioria das religiões planetárias acredita nisso. Sendo esta a verdade, o autocida está em sérios apuros! Para algumas denominações cristãs, diretamente no inferno para todo o sempre; para outras, nas regiões em que ele se sintoniza como infringidor das leis naturais, expiando os seus delitos, até o momento em que será resgatado para novas experiências espirituais e materiais. Nesse sentido, duas obras espíritas merecem destaque notório: Martírio dos Suicidas (1940), de Almerindo Martins de Castro, e Memórias de um Suicida (1958), psicografado por dona Yvonne do Amaral Pereira, a qual narra a estória do escritor português Camilo Castelo Branco, que se matou com um tiro na cabeça por ter ficado cego. Um relato do próprio Camilo que assombra a quem lê, pelas dores, pelas ilusões, pelas angústias redobradas em que o autor se vê após provocar a sua desencarnação. Por tudo isso, vê-se que é simples ser inteligente, difícil é ser sábio. Se o pretendente ao suicídio ou ateu ou agnóstico ou materialista acharem que “nenhum voltou do além para contar” é melhor ele se informar, porque desde março de 1848 os mortos andam falando por aí ostensivamente, com toda ou quase nenhuma pompa e circunstância! Einstein falava que um pouco de conhecimento nos afasta de Deus, mas muito conhecimento nos aproxima Dele. Sabedoria para poucos!