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Trump… e daí?

Donald Trump é o quadragésimo quinto presidente dos Estados Unidos… E daí? Isso somente aponta para o fato de que muitos continuam se espantado com a realidade. E a realidade é tão-somente o que está posto. Então porque tantos ainda se espantam diante dela? Talvez o mundo ande mesmo vazio de ideologias renovadoras, transformadoras, emancipadoras (se é que elas existem). Por isso há os que preferem “tapar o sol com a peneira”, esquecendo- se que a realidade segue “princípios sui generis” e não dá a mínima para as vontades individuais ou coletivas. Mas o que seriam esses “princípios sui generis”?

De certo, não é possível determiná- los precisamente, mas, apesar disso, proponho aqui um pequeno encaminhamento, a partir dessa vitória de Donald Trump nas eleições estadunidense: Trump, ao longo da campanha presidencial, vomitou opiniões machistas, racistas, homofóbicas, xenofóbicas e tantas outras coisas “fóbicas”, que daquele jeito, diante de daquelas barbaridades, ditas aos borbotões, ele estaria “cavando a própria cova” e perderia fácil a eleição para Hilary Clinton. Algumas pesquisas de opinião, feitas por institutos “respeitáveis”, anunciaram que Hilary tinha 99% de chance de vencer! Alguns “bons” analistas espalhados pelo mundo proferiram, destemidos: uma sociedade tão “moderna”, “instruída”, “pluralista”, “democrática”, e “globalista” quanto a dos Estados Unidos, não se entregaria a um homem tão “retrógrado”, “cínico”, “destemperado” e “localista” quanto Trump.

Aparentemente, Trump teria um perfil muito mais próximo de um desses estúpidos políticos populistas, infelizmente ainda comuns nas “republiquetas de banana”, como por exemplo, o Brasil, do que de um “valoroso” governante da “grande nação” estadunidense! Mas e agora? Agora, a realidade e seus “princípios sui generis”, impuseram-se e pronto, acabou, está feito: Trump é o novo presidente dos Estados Unidos! Antes da abertura dos Jogos Olímpicos, exatos 100 dias antes, o jornal britânico “The Guardian” escreveu que o Rio de Janeiro “entra na reta final olímpica parecendo mais uma clássica república de bananas do que uma economia emergente moderna a ponto de assumir seu lugar entre as principais do mundo”. Qual será agora a opinião do Guardian diante da vitória do Trump? Como o “Guardian” classificaria nesse momento a república estadunidense? O que diria ainda sobre a “economia moderna” dos Estados Unidos? Quer saber: pouco me importa! E digo mais: não defendendo o Rio de Janeiro, nem o Brasil (uma republiqueta de bananas, sem dúvida, haja vista que, tal como os estadunidenses elegeram agora o Trump, os brasileiros já elegeram Lula e Dilma!).

Porém, sejam lá o que o “Guardian”, o “Times”, o “Economist”, o “Diplomatique”, ou outra dessas “vedetes” da mídia internacional tenham dito, ou digam, penso que eles desprezaram, intencionalmente, os “princípios sui generis” da realidade, com o propósito final e sempre mesquinho de preservar seus interesses, mantendo seus privilégios. Quanto àqueles que os lêem ou balizam suas opiniões naquilo que eles e outras “vedetes” do gênero escrevem, eles que se danem! Vamos um pouco mais adiante… Lula, quando se elegeu pela primeira vez (2003), era o primeiro líder de um partido de esquerda, o primeiro operário e o primeiro retirante nordestino a alcançar a presidência. Os adversários de Lula diziam/ dizem que ele era/é apenas um oportunista que falava/fala a língua do povo, ludibriando-o. Não muito diferente, a eleição de Obama trazia a expectativa de uma “Nova Era” tanto para a sociedade estadunidense, quanto para as relações políticas internacionais contemporâneas. Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos, tornado-se o primeiro negro a governar aquele país. Os adversários de Obama diziam/dizem que o presidente era/é apenas um bom orador, mas que suas ideias políticas eram/são pueris. Pois bem: a eleição de Lula trazia esperanças de transformações progressistas, populares (não populistas) sérias e transparentes. O Brasil estava cansado de assistir as oligarquias políticas empanturrando- se de riquezas, a despeito da miséria da maioria dos brasileiros. A eleição de Obama assemelhava-se à de Lula na pretensão de representar uma renovação política e uma inclusão socioeconômica abrangente, que possibilitasse a redução das desigualdades.

No entanto, não foi preciso muito tempo para que tanto os estadunidenses, quanto os brasileiros percebessem que nada muda sem que antes o dinheiro autorize: a força do dinheiro sempre vence! Trump, que bancou a própria campanha, é a prova cabal disso. Em tempo: caso tivesse sido Hilary a eleita, esse arrazoado mudaria pouquíssimo. O título seria: “Hilary Clinton… e daí?” E as ideias centrais aqui expostas, em síntese, permaneceriam quase que inalteradas.