Artigo

O décimo filho

Era um casal como tantos outros. Já viviam há muitos anos e tiveram dez filhos. Amavam a todos eles, mas tinha pelo décimo filho um sentimento especial. Através dele se sentiam marido e mulher; dos outros, era como se fossem um pouco estranhos. Quando se referiam ao décimo filho, um dizia para o outro: – Cadê o nosso filho? Era o último filho do casal, privilegiado pela procriação prazerosa. Tanto o pai quanto a mãe o conceberam, num verdadeira troca da libido. O mesmo não aconteceu com os outros filhos. Estes, eram somente filhos do prazer sexual paterno.

Neles, se identificavam menos. Quando se referiam a estes, um dizia para o outro: – Cadê o seu filho? O marido se questiona a respeito da procriação. Se a mulher só engravidasse se sentisse prazer, eles só teriam um filho. Um único filho que seria o décimo filho. Talvez levasse o mesmo tempo para nascer. Mas ainda assim seria muito mais justo e gratificante. Muitos casais não teriam filho nenhum; outros, só os adulterinos. Para ele, a mulher só deveria engravidar se sentisse prazer no ato sexual. Não podia aceitar uma relação sexualmente desigual entre o homem e a mulher. Tanto deixaríamos de ter o controle da natalidade como um problema, quanto não haveria aborto de gravidez indesejada. Nesse aspecto, era como se o Criador tivesse se nivelado com a falibilidade da criatura humana.

Um filho só poderia ser fruto, portanto, do prazer sexual recíproco entre o marido e a mulher, ou do prazer sexual recíproco das suas relações adulterinas.