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O transtorno de deficit de atenção e hiperatividade e os superdiagnósticos

É preocupante a onda de superdiagnósticos envolvendo o transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Atualmente, inúmeros profissionais da área médica abusam na prescrição da medicação para o tratamento desse tipo de transtorno, enquanto muitos diagnósticos são feitos de forma subjetiva e setorizada. O transtorno é multifatorial e não há uma especialidade que domine todas as áreas envolvidas no diagnóstico, portanto, às pessoas que resolvem fazê- lo precisam estar preparadas para detectá- lo. Muitos dos sintomas envolvidos no transtorno, como agitação, distração e dificuldade de concentração, podem ser respostas da pessoa ao ambiente, ou até resultado da inadequação a determinado método escolar de ensino. É preciso esclarecer que o indivíduo ativo não necessariamente é hiperativo; assim como o distraído nem sempre apresenta deficit de atenção.

O TDAH é um transtorno que prejudica o aprendizado sim, e pode predispor seus portadores a acidentes automobilísticos, alcoolismo e envolvimento com entorpecentes, contudo, precisa ser diagnosticado corretamente. Para que isso ocorra, não basta levar em conta a sintomatologia presente na pessoa, mas o quanto isso prejudica sua vida escolar, familiar e social. Diagnosticar erroneamente implica em expor o indivíduo a riscos desnecessários, pois os remédios normalmente usados nos tratamentos do transtorno podem ter efeitos colaterais graves, devendo ser recomendados preferencialmente nos casos mais severos. Na prática, não é o que vem ocorrendo.

Muitos pais insistem que seus filhos, considerados hiperativos, sejam tratados com remédios que os deixem mais sossegados e tranquilos, e vêm contando com o apoio de profissionais da área médica que, subjetivamente, diagnosticam o transtorno. Assim, os comportamentos indesejados passam a ser contidos quimicamente, através da medicação. O que muitos pais não sabem, entretanto, é que a aparente calma e quietude da criança podem ser resultantes da toxicidade do remédio, e não necessariamente uma de suas consequências terapêuticas. Entre os efeitos colaterais dos remédios utilizados para o tratamento do problema, estão: a insônia, a irritação, o nervosismo, a diminuição do apetite, a gastrite e a cefaleia. Além disso, algumas pessoas podem apresentar quadros de exaustão mental, oriundos da utilização de suas reservas de energia no processo de concentração.

Assim, alerto para o perigo do superdiagnóstico do transtorno de deficit de atenção e hiperatividade, convidando a população a refletir acerca dos resultados alcançados com os envolvidos nesses tratamentos, e também em relação ao custo-benefício, tendo em vista que ainda existe a possibilidade de alguns estarem interessados na superestimação dos índices percentuais do distúrbio em nosso país, em virtude do lucro resultante do comércio da medicação recomendada, que é de alto custo. Certamente, é melhor ver nossas crianças alegres e dispostas, ainda que um tanto irrequietas, do que apáticas e tristes em decorrência dos efeitos da medicação.