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Separação precisa rimar mesmo com dor?

A separação é um fenômeno social que afeta milhares de famílias no Brasil, hetero, homo ou bissexual independente da orientação sexual, aceitar o fim da relação faz emergir uma fusão de sentimentos e na grande maioria das vezes negativos para uma das partes. O desejo pessoal de encontrar o parceiro ideal corresponde á principal características das relações amorosas, porém na contemporaneidade, esse desejo convive com a facilidade em se desistir da relação mediante as frustrações e seguir buscando uma nova relação prazerosa, fato esse que é estimulado por fatores externos, como a mídia, novas tecnologias e artes em geral, que enfatizam a busca de uma grande paixão, paralelo ao fato da sociedade agir de forma mais permissiva, aceitando, com maior naturalidade, a troca de parceiros e a vivência de relacionamentos amorosos seriais.

Quando um casal decide separar-se comumente passa por crises, afinal, ninguém acorda pela manhã com a descoberta de que deseja se separar, o fato ocorre como um processo e aos poucos um dos lados vai percebendo, desejando até enfim tomar a inevitável decisão. Quem passa por essa experiência se submete a um recolhimento reflexivo aflitivo porque muitas vezes não consegue aceitar facilmente a realidade de seus sentimentos. E até que perceba a impossibilidade da continuidade da convivência, vai-se vivendo o luto da perda de um amor, dos planos, dos projetos em comum, sendo obrigado a matar simbolicamente o outro, a matar um sentimento que insiste em existir na consciência todavia, quando na relação existe filhos o processo torna-se bem mais delicado. Percebe-se que as repercussões que uma separação conjugal causa são inúmeras, o sofrimento causado pelo término de um relacionamento amoroso independe do tempo de duração deste. Nessa fase geralmente uma das partes permite-se prevalecer com sentimentos e atitudes negativas. Muitas são as vezes em que o ódio se manifesta em uma das partes pela ferida aberta ocasionando assim que sentimentos e atitudes outrora benéficas transformem-se em comportamentos nocivos, causando estragos na vida de quem esta ao redor, principalmente os filhos, e quando estes são menores o efeito se da de forma bem mais devastadora, chegando a tragédias sociais relativamente comum nos noticiários diários.

É comum a parte que se sente prejudicada com a separação querer desvincular-se, desligar- se completamente dos filhos, faz-se necessário ter maturidade suficiente para entender que o que termina é a relação conjugal e não a relação parental, é importante para o bem -estar da criança que o ex-conjuge preserve as relações parentais e possa principalmente ser capaz de estabelecer entendimentos mútuos com relação aos filhos, afastando-se de violências como a alienação parental, afinal eles já estão enfrentando o medo e as consequências de um lar desfeito. Nesse período para os filhos a separação representa um mistério no qual não se tem conhecimento das causas, em alguns casos sentem-se culpados, desprotegidos, ameaçados, fazendo-se necessário que a situação seja explicada por ambos os pais com o máximo de transparência e objetividade, deixando sempre claro que a parentalidade continua após a separação, porque por mais que existam ex-maridos e ex-esposas, jamais existirá ex-mãe ou ex-pai, pois o vínculo parental é para sempre.

Enfim, necessário se faz um mergulho interno de cada um em busca do resgate de partes de si que se perderam no relacionamento e foram projetadas no ex. parceiro, das necessidades que fora procuradas externamente ao invés de serem desenvolvidas internamente, da busca da autonomia interrompida, que deverá ser resgatada, a luta para que sentimentos como tristeza, luto e saudade não se tornem impeditivos na busca de novas experiências e do crescimento individual. Afinal de contas, quem consegue se encontrar não se perderá frente a um rompimento.