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Cura Gay? Como assim?

Desde a tarde de segunda-feira quando foi divulgada a polêmica decisão judicial do magistrado Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, onde , concedeu uma liminar que, na prática, torna legalmente possível que psicólogos ofereçam pseudoterapias de reversão sexual, popularmente chamadas de cura gay a indignação tomou conta das redes sociais, causando intensa repercussão junto a opinião pública. Relembrando, toda essa atual situação começou quando em 2009 uma psicóloga e missionaria carioca após perder seu registro por praticar a referida terapia, moveu ação juntamente com um grupo de psicólogos para suspender a Resolução 01/1999 do Conselho Federal de Psicologia, que prevê que os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. O polêmico assunto inclusive já esteve por mais de uma vez como pauta na Câmara dos deputados, onde foi arquivada a pedido do próprio autor.

Os representantes do CFP – Conselho Federal Psicologia, rebatem destacando que a homossexualidade não é considerada patologia, segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde desde 1990, alertando também que as terapias de reversão sexual não tem resolutividade cientificamente comprovada, são ineficazes, ademais a resolução 01/99 produz enfrentamento aos preconceitos e na proteção dos direitos da população LGBT no contexto social brasileiro, aceitar a decisão judicial seria no mínimo um retrocesso pois, reintroduz a perspectiva patologizante, ferindo o cerne da Resolução 01/99, além de provocar sequelas e agravos ao sofrimento psíquico, ao psicólogo cabe reforçar o respeito ao direito humano, respeitar as diversas formas das pessoas serem e estarem no mundo, considerando sempre que a homessualidade é uma condição e não uma patologia. O CRP – Conselho Regional de Psicologia da Bahia publicou uma nota de repúdio onde entre outras coisas frisou que não faz parte do papel do psicólogo (re)direcionar o desejo sexual do sujeito e com isso, mudar sua orientação sexual.

Segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil é o detentor de um lamentável recorde. Somente em 2016, 343 pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) foram assassinados, é o maior numero em 37 anos. Esses dados representam uma morte a cada 25 horas, ressaltando que a falta de registros, devido à ausência de um controle centralizado e oficial impede a precisão dos dados, mas, é sabido que em números absolutos a Bahia encontrase em segundo lugar no ranking nacional.

Assim, independente de sermos a favor ou contrários a decisão do juiz precisamos considerar que estamos falando de pessoas, e o fato dessas pessoas sentirem- se atraídas por pessoas do mesmo sexo deve nos impulsionar a compreendê- los em sua subjetividade, repudiando qualquer prática que desconsidere estes preceitos, pois, como já dizia Freud, em nível social, é possível dizer que “uma das óbvias injustiças sociais é que os padrões das civilizações exijam de todos uma idêntica conduta sexual”. Salientando que preconceitos e descriminação causam tanto sofrimento que desautorizam vidas serem vividas.