Artigo

Vacinar é preciso

Certa tarde, estava eu num consultório médico quando um senhor, aparentando cerca de 40 anos, aconchegando ao seu peito um bebê, olhava- o e lamentava ter de o vacinar. “Que pena! – dizia o homem – meu filhinho vai cair na agulhada. E continuava: sou contra a vacinação.

Não é melhor a criancinha cair na “agulhada” do que adoecer, por exemplo, de poliomielite e morrer ou ficar aleijada!

No passado, milhões sofreram com a varíola, doença que quando não levava ao óbito, deixava o corpo marcado de cicatrizes como um testemunho de dias e noites de sofrimentos inclusive dos familiares dos variolosos. Contudo, Jenner teve a genial idéia de inocular as secreções oriundas das pústulas das mãos das ordenhadoras de vacas num braço de um adolescente que ficou imune à varíola. Estava descoberta a vacina, instrumento da medicina preventiva que tem evitado que milhões de pessoas adoeçam e sirvam de “depósito” do agente transmissor da enfermidade, contagiando outras pessoas.

A varíola está erradicada do planeta

O Dr. Albert Sabin, outro benfeitor da Humanidade, com sua vacina, tem evitado que crianças a adolescentes no mundo todo adoeçam. Lembro-me de um caso, quando eu era estudante de medicina, uma senhora muito triste dizia ao médico:” Meu filhinho, disse, apertando-o ao peito, andava por toda a casa quando ficou com febre e perdeu a força das pernas”. O médico, igualmente, ficou triste, pois não poderia fazer nada, além de consolar. Naquela época, a vacinação contra a poliomielite não era tão largamente oferecida nos postos médicos como hoje. Mas a poliomielite não acometia só as crianças. Atacava também os adultos, embora em menor escala. O presidente Franklin Delano Roosevelt tornou-se um cadeirante e um filho de Getúlio Vargas, com vinte anos, veio a falecer.

Com a vacinação em massa, já vão longe os dias de um médico presenciar uma criança morrer sufocada pelo temível crupe ou difteria. O mesmo se pode afirmar do sarampo, do tétano etc. A recente epidemia de febre amarela ocorreu em pessoas sem vacinação e, logo, quando ela foi realizada em massa nas áreas epidêmicas, foi controlada.

Certa vez, me trouxeram um paciente todo rígido que ferira dias antes o pé esquerdo. Se ele tivesse feito uso do soro antitetânico, que confere imunidade instantânea, não teria ido ao óbito. Para prevenir o tétano, o paciente, além do soro antitetânico, deve ser vacinado.

É muito importante que os responsáveis por crianças e adolescentes levem-nos aos postos de saúde para serem imunizados. A vacinação tem reduzido o número de pessoas que adoecem e, em alguns casos, morrem. Há vinte anos, uma mãe me trouxe um recém-nascido que ela colocara pó de taboa (uma planta encontrada em terrenos alagadiços) no coto umbilical. A criancinha apresentava de vez em quando convulsões. Durante trinta e dois dias lutei para salvá-la, mas tudo foi inútil. O tratamento consiste, nos casos de a enfermidade já instalada, em tratar os sintomas, entretanto a mortalidade por tétano é alta.

Deixar de imunizar seria uma catástrofe, pois doenças já controladas voltariam e as crianças, principalmente, com seu sistema imunológico em desenvolvimento, sofreriam. O planeta com mais de sete bilhões de habitantes seria mais difícil controlar uma epidemia ou talvez uma pandemia de agravos evitáveis por imunizantes. Além disso, todo infectado age como um foco, um depósito irradiando o vírus ou a bactéria.

Infelizmente, pessoas com uma boa escolaridade têm apregoado a campanha de não vacinar. Uma boa alimentação, rica em vitaminas etc. para estimular o sistema imunológico é a solução, dizem elas. Nada mais falso. As bactérias e os vírus não respeitam nem patrícios nem plebeus, indistintamente.