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Relacionamentos abusivos na adolescência

É frequente os noticiários atestarem casos de relacionamentos violentos, as histórias descritas mostram níveis muito severos de abusos que acabam culminando em homicídios. Todavia há muitas experiências de violências banalizadas e invisibilizadas, especialmente a violência psicológica. Comportamentos como depreciar, controlar, rebaixar a autoestima, gritar, xingar, culpabilizar o outro, impedir as relações sociais são sinais comuns de violência psicológica, a mais frequente entre os relacionamentos mundo a afora, desde o namoro. O grande problema é que diferente das outras formas de violência contra a mulher, a violência psicológica muitas vezes equivocadamente é confundida como sinais de amor, perpetuando assim o ciclo violento, retardando com isso o termino do namoro ou a busca de outras situações.

A Lei Maria da Penha (Brasil, Lei nº 11.340, 07 de agosto de 2006) prevê outras formas de violência como a física, a sexual, a moral e a patrimonial. Estudos realizados em vários países, incluindo o Brasil, demonstram que adolescentes de ambos os sexos, em relações heterossexuais e homossexuais, de diferentes classes sociais, podem ser vítimas e perpetradores de violência no namoro. Evidenciando que não se trata de um problema restrito a poucos, mas de abrangente alcance.

Infelizmente, muitas são as formas de violência aclamadas em nossas produções culturais, nos livros, nos filmes e nas músicas, construindo-se uma cultura de aceitação a violência, como se toda a relação de amor envolvesse, em alguma medida, violências e viver entre “tapas e beijos” significasse algo normal. Soa perturbador por que adolescente e jovens sujeitamse a relacionamentos violentos, onde deixam-se aprisionar em relações tóxicas, mesmo quando ainda não possuem filhos, não estão casados e não existe dependência financeira. Atualmente já se compreende que a violência no namoro é aprendida com as influencias sociais, dos pares e familiares às quais os jovens são expostos desde o início da vida. Pertencer a comunidades passivas para com a violência, culturas sexistas, ter amigos e pais que vivem relacionamentos violentos e receber tratamento violento dos pais quando criança, são algumas das principais razões que favorecem a vitimização pelo parceiro íntimo. Essas experiências corroboram com atitudes de aceitação da violência, dificuldade em lidar com conflitos no namoro e insegurança em relacionamentos íntimos, ao fim, tem-se um amor pernicioso que aprisiona e ameaça o bem-estar e a integridade dos envolvidos, podendo segundo estudos se perpetuar até a vida adulta, com novas ondas de risco à saúde mental do casal e dos seus filhos. Em curto prazo, diversos efeitos danosos da violência no namoro tem sido documentados, o que inclui depressão, transtorno de estresse pós-traumático, abuso de álcool, ideação suicida e em casos extremos suicídios e homicídios, já nas tentativas de término é comum a adoção de condutas autolesivas, mostrando assim que romper esse vínculo de afeto, mesmo violento, é uma árdua tarefa.

No Brasil, o Grupo de Estudos em Prevenção e Promoção de Saúde no Ciclo da Vida da Universidade de Brasília tem buscado compreender o que impulsiona a mudança, da violência á autoproteção frente a namoros com maus-tratos. Na Psicologia a teoria chamada modelo transteórico de mudança, possui o objetivo de compreender como ocorre a mudança das pessoas frente a uma determinada conduta viciante, elaborado pelos psicólogos James Prochaska e Carlo DiClemente em 1982, esses pesquisadores tentam compreender como e por que as pessoas mudam, seja por si mesmas ou a partir da ajuda de um terapeuta, os autores descrevem uma série de etapas pelas quais uma pessoa passa quando quer abandonar um hábito nocivo, como os relacionamentos violentos, consumo de psicoativos dentre outros. Como indicação de leitura o livro, Libertando-se de Namoros Violentos: um guia sobre o abandono de relações amorosas abusivas, Editora Sinopsys (Murta; Ramos; Tavares; Cangussú; Costa, 2014b), traz exercícios, planejamentos e estratégias de identificação e de intervenção nessa triste realidade.