Artigo

Deby, meu amor

Quando a vi, pela primeira vez, tive medo. Ela já estava lá, guardando a nossa casa. Não gosto de cão antissocial. Prefiro um vira lata a um cão de raça. Pela ótica da ferocidade, não podia mesmo sentir empatia por Deby. A serventia de um cão só deveria ser a de avisar a presença de alguém, por um simples Au! Ao! Não deveríamos abusar do excesso de sua fidelidade.

O medo que sentir por Deby, não me deixou perceber, de imediato, a sua beleza física, nem a possibilidade de vir a ter fascinação por ela. Deby era uma cadela linda, dócil, forte, esguia, com manchas pretas grandes, sobre a cor branca. Cumprimentava a gente, dando-nos uma das patas; punha estas sobre a cabeça, como se estivesse preocupada e colocava a ponta da língua de fora, num gesto doce de inocência.

Mae zelosa, Deby deu cria a seis vezes, tendo lindos rebentos. Num desses partos, sofreu muito, quando foi operada por um veterinário. Depois de alguns anos, quando o viu, ficou tremendo de medo, como se estivesse prevendo outra cirurgia. Esse fato me comoveu muito, tornando-me afetivamente mais ligado a ela.

Deby era uma mãe dedicada, seja do ponto de vista natural ou adotivo, pois tanto era carinhosa com a sua filha Revê, na qual fazia cafuné com os próprios dentes, quanto com a outra cadela com a qual conviveu, chamada Sam, a quem também estendeu os mesmos afetos.

Embora pertença a decantada espécie dos animais racionais, tendo uma relação afetiva com a espécie canina. Não é à toa que, quando chego no muquifo do astrólogo Joe, o seu cão Rex me festeja a visita. Aparece logo na sala, deita no chão, põe as patas para cima e rola de um lado para o outro, debaixo dos meus pés. Rex se comporta assim, discriminando os demais visitantes, uma vez que não lhes faz a mesma recepção, segundo o seu dono.

Dentre os cães que conheci e possui, Deby será eternamente inesquecível. Tê-la comigo me fez uma pessoa feliz e privilegiada, guardando dela uma lembrança nítida e perene, com todas as cores de sua iluminada e iluminante trajetória: – Deby, meu amor!