Artigo

O menor e a bebida alcoólica: uma tragédia social

A produção e o consumo de álcool é algo tão antigo quanto a história da humanidade. Há o relato na bíblia de que Noé consumiu tanto vinho que ao perder o sentido do que fazia passou a ficar nu e a ser ridicularizado por um de seus filhos. Quando soube do ocorrido Noé amaldiçoa tanto seu filho quanto a descendência dele.

O tempo passou mas poucas mudanças ocorreram nas relações no tocante ao consumo de álcool. E hoje, é cada vez mais frequente nos lares alcançando inclusive menores. O que parece é que a sociedade brasileira desconhece o Código de Contravenções Penais e o Estatuto da Criança e do Adolescente que proíbem tanto a venda quanto a oferta de bebida alcoólica a menores.O que se vê é que o álcool é a droga mais utilizada por adolescentes e o que é pior é o fato de que o consumo vem aumentando principalmente entre os mais novos e as meninas: quase a metade dos menores de dez a dezessete anos já usou bebida alcoólica. Na década de oitenta o consumo tinha início entre os dezesseis e dezessete anos. Atualmente, ocorre entre os doze e os quatorze anos, e o uso frequente tem aumentado.

Mas porque os jovens tem bebido cada vez mais, e mais cedo? Vamos levantar hipóteses e refletir a respeito a fim de nos responsabilizarmos pela questão. Em primeiro lugar, a presença da bebida alcoólica na vida cotidiana dos jovens é vista por eles como corriqueira e inofensiva. Muitos acham que o problema surge com a ingestão em demasia, quando se tornam inconvenientes ou se aproximam do que eles chamam de perda total (= perda dos sentidos) ou coma.

Esta percepção decorre dos “belos comerciais” mais do que um produto vendem um estilo de vida almejado pelos jovens: beleza, alegria, popularidade, azaração etc. Aliado a esse poderoso instrumento, surge outro eficaz: o aval dos pais. Muitos adultos acreditam que oferecer bebida aos filhos em casa é uma atitude aconselhável e dão festas para os menores nos quais permitem que haja bebida. Aliás, para muitos jovens, faz parte das festas o ritual do “esquenta”: antes do evento, reúnem-se em pequenos grupos para beber. Na casa de um deles.

Há casos inclusive em que os pais que recebem os amigos dos filhos participam do momento festivo introdutório ou em locais públicos, com bebidas trazidas de casa ou compradas em supermercados. Aí está outro fator que leva os jovens a crer que a ingestão de bebida alcoólica é inofensiva: apesar de sua venda ser proibida a menores de dezoito anos, a lei não é respeitada. Muitos estabelecimentos comerciais notadamente supermercados as vendem sem pedir documentos aos jovens e muitos adultos aceitam o pedido deles para passar a bebida em sua compra.

Os jovens bebem, entre outros motivos, porque o álcool provoca euforia, desinibição e destrava os mais tímidos. Mas, depois, afeta a coordenação motora, os reflexos e o sono, além de interferir na percepção do que o jovem considera certo e errado. Recentemente a imprensa noticiou que várias adolescentes tiveram a sua primeira experiência sexual sob o efeito do álcool e se entristeceram com o fato.

O problema está no fato de que em menores de 18, o uso intensivo e crônico de álcool pode ter um efeito mais danoso do que em adultos, levando à demência. E independente da idade o consumo provoca risco de perda do volume cerebral. E estas são as consequências a longo prazo. Nas mais imediatas temos: mal-estar físico e psíquico, perda do controle, depressão. Precisamos de agressividade no discurso e uma postura de distanciamento com relação a bebida. A campanha do se beber não dirija precisa ampliar sua perspectiva. Algo do tipo: QUER VIVER? NÃO BEBA.