Artigo

O meu pé de jabuticaba

Perto da varanda da casa lá da roça, tenho um pé de jabuticaba. Já faz muitos anos que, através das sementes colhidas lá no campo, dei início ao seu cultivo. A minha jabuticabeira hoje se encontra grande, viscosa e produtiva.

O meu pé de jabuticaba me deixou surpreso, quando se tornou um espaço sui generis, visitado por pássaros exóticos, que emitem o seu canto inédito, festejando a beleza da vida. Separado da sala de visita, pela varanda, de onde se pode ver, ouvir e gravar – o palco, o cantor e as canções – o espetáculo começa as quatro horas e vai até as seis horas da manhã.

O show não depende de público expectador. O cachê dos pássaros é a auto celebração do significado da vida. Às vezes, a apresentação é feita por uma certa quantidade de pássaros, como se um grande coral fosse, sob a regência de um maestro responsável; às vezes, fica por conta de um único pássaro de carreira solo, mas este nunca deixa de manter a grandeza do espetáculo.

Um repasto frugal é servido, após o show, na própria copa do meu pé de jabuticaba. Os pássaros se deliciam com o sabor da fruta e ingerem um poderoso antioxidante, mantendo o corpo saudável, para futuras viagens e apresentações.

O meu pé de jabuticaba já foi palco de grandes espetáculos. Recordo-me de que um dia acordei e ouvir um coro de asas batendo, constatando que era um bando de pássaros, pousando no meu pé de jabuticaba. Logo depois um deles se explicou:

– Somos amantes da Criação. Voamos pelo mundo afora, festejando a grandeza da vida. Agradecemos todos os dias, ao Criador, pelo milagre da nossa existência.

– Sejam bem-vindos – disse-lhes. Era um papagaio que depois se identificou como o maestro Licurgo. Ele não atuava só nos shows, como tal; exercia também o papel de relações públicas, fazendo a ponte entre os interesses dos visitantes e do anfitrião.

O evento começou. As músicas ficaram por conta dos visitantes que, depois de cantar o próprio repertório, surpreenderam- me com a interpretação ipse literis em nosso idioma, da melodia e da letra da canção intitulada A Montanha, dando por encerrado um grande espetáculo.