Artigo

Missões

João Paulo II, na Encíclica Redemptoris missio, escreveu que a Igreja é missionária por natureza. Ainda hoje, o compromisso missionário deve ser o primeiro serviço da Igreja à humanidade, com o intuito de oferecer a salvação a todos, principalmente aos humilhados e oprimidos, pois o núcleo da missão é a inclusão dos excluídos. Como assinalou o Papa Bento XVI em sua mensagem para o Dia Mundial das Missões, “para cada fiel, não se trata simplesmente de colaborar para a atividade de evangelização, mas de se sentir ele mesmo protagonista e co-responsável da missão da Igreja”. Foi o próprio Cristo quem buscou reforços para o anúncio da Boa Nova, engajando seus discípulos na missão (Mc 6, 6b-13).

A Boa Nova diz que o amor deve prevalecer sobre a Lei, que o Reino de Deus está chegando e com ele a prática da justiça, da caridade, da misericórdia e da paz. Todos devem saber disso para renovarem suas esperanças. Mas, como tomar conhecimento da salvação se não há quem a proclame? Jesus anunciou a Boa Nova por primeiro, depois enviou seus apóstolos, dois a dois. Hoje, Ele nos pede que façamos o mesmo, enfrentando o medo, assumindo uma renovada consciência missionária, e ainda buscando reforços ao anúncio da Palavra. E quem são os nossos reforços? Todo aquele a quem anunciamos a Boa Nova passa a ser um reforço, pois também vai anunciar. Como afirmou Bento XVI, “toda comunidade cristã nasce missionária, e é justamente sobre a base da coragem que se mede o amor dos fiéis por seu Senhor”.

Ser cristão missionário é estar sempre a caminho, anunciando a Boa Nova e assumindo algumas posturas básicas: desapego aos bens materiais, disponibilidade, paciência, amor gratuito, coragem, fé, alegria, discernimento, escuta atenta, compaixão, simplicidade… Essas posturas não representam o conteúdo da missão, apenas formas de realizá-la com sucesso. Ser missionário não é fácil, pois implica em sairmos de nossa acomodação. O foco da missão é servir e não ser servido. O agente da evangelização que busca a promoção pessoal e se preocupa com as aparências se desvia do principal, pois com aparências não se anuncia o Reino nem se incluem os excluídos. Lamentavelmente, hoje em dia, dá-se mais importância ao “parecer ser” do que ao “ser”, difundindo- se acentuado marketing religioso.

O que precisamos para dar seguimento ao projeto de Cristo? O verdadeiro cristão sente e sabe que possui compromisso com a evangelização dos povos. A adesão é livre, mas é dever do cristão anunciar, para que todos tenham a oportunidade de abraçar a salvação. A mudança de vida se dá mediante a escuta da Palavra e sua experiência prática em nossa vida, pois precisamos nos libertar de tudo o que nos oprime e marginaliza, experimentando a restauração que vem do Senhor Jesus. Assim, a missão não é uma simples tarefa. É a consequência da intimidade daquele que chama e daquele que é chamado. É o desenvolvimento da consciência de ser chamado, gerando em nós o desejo de contribuir, de anunciar, de participar (agora renovados) no exercício do amor fraterno. Certamente, o maior desafio do missionário é tornar o próximo semelhante a Deus por meio de seu anúncio.

*Na elaboração do presente artigo, contei com o auxílio do amigo, José Franchin, coordenador do grupo de estudos bíblicos da Paróquia de São João Batista (Jaú – SP), a quem agradeço de coração.