Artigo

O segredo é soltar devagar

“Maria estava preocupada com seu filho de treze anos. Ele insistia em sair com os amigos e retornar para casa quase meianoite. Dizia que todos podiam chegar mais tarde, menos ele, que tinha uma mãe chata. Maria ficava triste com as palavras do filho, mas estava convencida de que ainda era cedo para ampliar seu horário de chegada. Falando a respeito do assunto com uma colega de trabalho, a mesma lhe sugeriu que deixasse o filho ir e ficar até o horário em que todos ficavam; indo buscá-lo de carro posteriormente. A justificativa apresentada: já que todos ficam, deixe-o ficar também, senão irá se sentir envergonhado.” Ora, é interessante como grande parte das pessoas se preocupa excessivamente com a opinião alheia, e faz de tudo para agir conforme a maioria. Não importa se está certo ou errado. Pressupõe-se que está certo e ponto final.

Atualmente, os jovens começam a sair de casa ainda na puberdade, período que vai mais ou menos dos nove aos doze anos de idade. Aí ingressam na adolescência propriamente dita, que deveria ir até os dezoito anos, mas tem se estendido até os vinte e um, ou mais. O que acontece é que, fisicamente, nossos jovens estão crescendo e se desenvolvendo muito. Assim, é comum encontrarmos meninas de oito anos que parecem ter dez ou onze; e meninos de doze ou treze que parecem ter dezessete. Nossas meninas ganham seios cedo demais, enquanto os meninos calçam 42/43 facilmente. Estão ficando cada vez mais altos, e muitos deles ultrapassam a altura dos pais já na puberdade. Acontece que só têm tamanho, mas maturidade que é bom… São homenzarrões com mentalidade infantil.

Os pais veem o tamanhão e pensam que está na hora de voar, mas muitos desastres estão ocorrendo em função dessa percepção equivocada. Não basta ter tamanho, é preciso ter maturidade, noção do certo e errado, firmeza para dizer “não” quando necessário. Que adianta deixar o filho de quinze anos dirigir, se ele nem ao menos possui ainda os reflexos necessários para um bom desempenho automobilístico? No caso de um acidente de trânsito, quem vai responder judicialmente? Será que dá certo colocar camisinha na carteira do filho de dezesseis anos? Com que dinheiro ele vai sustentar seu filhinho caso ela se rompa? Que tal dar cerveja para o menino de quatorze anos? Talvez com dezoito já esteja dependente do álcool e promovendo desordens. Permita que seu filho fume aos treze, e aos quinze achará natural experimentar outras coisas.

Tamanho não traz responsabilidade. Devemos ensinar isso a nossos filhos, principalmente através de nosso exemplo. Cada coisa a seu tempo. Não precisamos colocar a carroça na frente dos bois. É natural que nossos filhos adolescentes desejem saborear o mundo de uma só vez. Nós também fomos adolescentes e passamos por isso. No entanto, aprendemos que quando se come demais e, principalmente, quando se come cru, surge o mal-estar. Precisamos dosar a liberdade de nossos filhos para que eles não se percam diante da falta de limites. O segredo é soltar devagar, para que eles assimilem cada experiência. “Devagar e sempre” é um ditado popular antigo que aprecio muito.