Artigo

Carta cidadão

A liberdade é o mais rico patrimônio de um povo. Nem sempre nos damos conta disso. A liberdade é como a saúde só a valorizamos quando a perdemos. A campanha eleitoral do próximo ano que extraoficialmente está nas ruas, é mais um passo importante na caminhada do Brasil rumo ao futuro. Mas o que é futuro? Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgado dia 25/9 mostrou que a lei Maria da Penha não diminuiu a taxa de mortalidade das mulheres por agressão no Brasil. O levantamento revela que a proporção de feminicídio por 100 mil mulheres em 2011 (5,43) superou o patamar em 2001 (5,41). A lei de agosto de 2006 criou uma série de medidas de proteção e tornou mais rigorosa a punição contra a violência doméstica. É assustador o IPEA estima que no período de 2001 a 2011 ocorreu mais de cinquenta mil feminicídios no Brasil.

Quanto mais as “práticas democráticas” ocorrem, mas os cidadãos se aperfeiçoam nas mesmas. A construção de uma boa política é, sobretudo zelar pela segurança do cidadão e da cidadã. É o Estado oportunando a proteção a mulher de forma coesa e determinando leis, leis e mulheres continuam sendo mortas e muitas dessas mortes tiveram Boletim de Ocorrência e mesmo assim o poder público não apura, não age é como o faz de conta. Que país do futuro é esse que silencie ou até desconhece os feminicídios que estão aí registrados?

A educação pela primeira vez em quinze anos, a taxa de analfabetismo de brasileiros com idade de quinze anos ou mais aumentou no país. Esse aumento adiciona- se a outros indicadores-índice de analfabetos funcionais, falta de trabalhadores qualificados, queda de produtividade.

Rui Barbosa quando foi candidato a Presidência da República no início do século passado já reclamava do elevado número de analfabetos existente. Fique esperto, cidadão. Se você deixar alguém lhe dizer o que fazer o tempo inteiro, da hora de acordar à hora de dormir. Os distraídos talvez ainda não tenham percebido, mas o Brasil não está sendo ‘o país das maravilhas” vemos um congresso falido, a inoperância do governo, o desarranjo da infraestrutura, e há outros fatores alguns crônicos como a escola que não ensina, os hospitais à deriva, a polícia que não polícia, a justiça que não faz justiça.

Fomos ensinados a aceitar docilmente a corrupção. No período da primeira república, coagido pelos coronéis ou em troca de favores, os eleitores brasileiros abriram mão do direito de escolher nossos representantes. Nossa memória política ainda guarda traumas do voto de cabresto. O embrião da corrupção é concebido durante as campanhas eleitorais, quando o voto é muitas vezes trocado por um pacote de alimentos ou por material de construção. Não é, pois, de se estranhar que políticos que compram o voto de seus eleitores ajam a favor de seus próprios interesses. Protegidos em nossos lares, nos indignamos com as notícias que trazem à tona, mensalões, dossiês dos aloprados e outros escândalos da mesma espécie. Mas continuamos em nossa zona de conforto, Acostumados a pensar em política somente em época de campanha eleitoral.

Chamamos os políticos de corruptos, mas, ao mesmo tempo, estabelecemos um pacto silencioso com a corrupção do nosso dia a dia. Por ser tão difundida na nossa sociedade é impossível combatê-la. Assim, a toleramos das formas mais simples, como ocupar uma vaga no estacionamento destinada ao idoso, burlar uma regra do trânsito porque “ninguém está olhando.”

A solução para a problemática corrupção não se limita a aceitar que ela é um câncer espalhado por nosso sistema e um traço de nossos políticos. Necessitamos combatê-la, fiscalizando, cobrando, protestando é preciso usar a visão pois esta, determina a atitude e atitude é ação.

Dia cinco de outubro a Constituição Federal faz vinte e cinco anos de sua promulgação. É necessário que todos colaborem para o exercício da cidadania isso é possível, pois democracia depende de instituições que imponham a subordinação aos governantes à vontade do povo que o elegeu. A representação popular, ao contrário do que se possa pensar, não delega a determinadas pessoas o poder de interpretar os votos ou às aspirações da coletividade, mas o de ser a sua vontade e a sua voz. É uma garantia de nossa carta cidadã.