Artigo

Generosidade e gratidão

Conheci Gervásio primeiro; não me lembro através de quem, nem do porquê. Gervásio foi um competente profissional da área contábil, embora não tendo os cursos técnicos, nem o superior de ciências contábeis. Prestou serviços no comércio de Itabuna, onde teve alguns clientes, dentre eles, o generoso comerciante Valdemir Andrade, pai do médico Valdemir Andrade.

Durante o tempo em que Gervásio e o Sr. Valdemir Andrade tiveram relação profissional, não cheguei a conhecer este cidadão pessoalmente. Valdemir Andrade também não me conhecia, mas sabíamos um da existência do outro; eu, pelo balanço patrimonial e pelas demonstrações financeiras das empresas dele que assinei, algumas vezes; ele, pelo mesmo motivo, já que verificava que o tal signatário era eu e não o seu contador Gervásio.

Os anos se passaram. Gervásio desencarnou (morreu) e eu quase o sucedi, como contador de Valdemir Andrade. O fato é que a contabilidade das empresas de Valdemir não podiam sofrer solução de continuidade. O Sr. Valdemir precisava preencher, com urgência, a vaga de Gervásio, tendo encontrado aqui mesmo, no mercado de trabalho de Itabuna, outro profissional competente que o substituiu.

A nossa ¨relação¨ indireta zerou. Entre eu e Valdemir Andrade não havia mais aquelas assinaturas, que denunciavam a minha anônima e modesta existência. Agora Valdemir Andrade poderia me tratar como um ilustre desconhecido. Mas a grandeza deste homem não lhe deixou me esquecer, não se limitando aos simples gestos do cumprimento nem o da respeitosa atenção.

Todas as vezes que Valdemir Andrade passava pela Avenida Itajuípe, onde moro, conversava comigo, querendo saber sobre a minha pessoa. Numa dessas vezes, observando que estava construindo, excedeu-se em benevolência, atingindo um grau mais alto da generosidade humana. Sem que lhe pedisse, Valdemir Andrade deu-me um cheque, com o qual pude comprar a areia, a brita e os vinte e cinco sacos de cimento que gastei, quando bati a primeira laje da casa onde moro.

A construção da minha casa foi uma benção. Sou grato a Deus e a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste nobre empreendimento. E Waldemir Andrade foi uma daquelas pessoas que desceu do seu status quo, para se fazer lume, no caminho opaco deste infatigável cidadão.