Artigo

Crônica – De amor também se morre

Eurípedes Brito Cunha

Lembro-me de haver escrito umas linhas sobre a morte do amor depois de contar uma história por mim vivida, e conclui por dizer que de amor se vive, sim, agora posso afirmar que m de amor também de morre, morre de verdade. Não só figuradamente, não só utilizando licença poética.

Diante de tal afirmativa, sou obrigado a informar que não digo isso por sentir tristeza, mesmo quase tendo sido vítima de um drama semelhante, pois nesta vida  tudo é  mesmo passageiro (diz o povo que só não são passageiros  o cobrador e motorista), ainda assim, contudo, restam as cicatrizes, na maioria das vezes indolores, mas servem para marcar de modo permanente os fatos tristes inseridos em nossa existência, mesmo diante das  alegrias que a vida nos proporciona, Todavia, cicatrizes não  há tempo que apague como não se apagam  as suas  lembranças, lembranças  que já são também cicatrizes marcantemente dolorosas.

Bem, se as tristezas marcam nossas vidas, alegrias e felicidade também estão presente – se a vida não é um mar de rosas, também não é um vale de lágrimas.

Mas, cumpre abordar o tema escolhido para esta crônica, que não ocorreu ao acaso, foi pensado, extraído do viver diário, e tanto assim que me veio da lembrança de um parente próximo, homem bonito e bem situado em sua profissão, alegre e simpático. Pois bem, depois de muito namorar e passado dos trinta anos, resolveu noivar e preparou-se para o casamento. Eis que, então, sem motivo aparente, a sua noiva comunicou-lhe o encerramento do relacionamento, simplesmente não queria mais casar-se com ele, embora, afirmasse, não havia outro. Havia o desamor. E vi um homem triste ao contar em família a sua história de amor.

E ele repetia a cada instante que mataria a antiga noiva, era só encontra-la e se houvesse outro em seu lugar, morreria também. E era veemente e parecia absolutamente sincero em suas palavras. E esteva visivelmente a ponto de .desfazer-se em lágrimas. Passada aquela fase aguda com a ajuda e conselhos de minha mãe, ele saiu e retornou ao navio de onde era oficial e que dentro em pouco partiria, como efetivamente partiu, em direção ao Rio de Janeiro.

Passados alguns dias, recebemos notícias dele que estava internado em um hospital carioca. Só matizara a sua dor que se transformara em doença real e grave, provavelmente numa pneumonia. Levaria alguns dias para refazer-se.

Por Eurípedes Brito Cunha (In memoriam) *

*Falecido em 15/4/2014.