Artigo

Um território chamado gramática

Segundo Rui Barbosa a política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmo, desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia cria, apura, eleva o merecimento.
Num país de governantes pouco tolerantes, de normas rígidas a que os governados pouco seguem. Pois seguir a norma é pouco e está aí o português brasileiro para provar.
No Brasil o desafio do aprendizado pode estar hoje mais relacionado à dificuldade de saber que linguagem usar em que situações e de identificar os diferentes níveis de formalidade, que exigem, usos específicos de linguagem.
Há uma cultura hodierna de falar mal da gramática, ela é a causadora do estrago que se faz na nossa língua. A gramática como código registra os usos da linguagem adquirida e lhe classifica os fenômenos para facilitar aos alunos o domínio dessa modalidade de linguística, neste olhar o verdadeiro gramático é um pesquisador e um classificador. Dele se exige duas virtudes intelectuais: o espírito objetivo e o senso de classificação. Portanto o gramático observa e classifica os fenômenos da língua. Percebe-se também que o ensino da gramática, mais do que ela mesma, apesar do natural desenvolvimento e ampliação, ganhar nova roupagem, adaptar-se à evolução dos tempos ou seja não há a menor lógica em se manter o ensino de gramática como se fazia há trinta, quarenta anos. Esse tipo antigo de ensino gramatical hoje seria rotulado de mera gramatiquice, embora naquele tempo tirava-se muito proveito dele.
Como podemos observar não há apenas uma gramática normativa mas outras: categorial, a descritiva, estrutural, expositiva, textual, gerativa, transformacional, por isso há interação, pois há muitas gramáticas, uma domina e faz a alimentação das outras; a escola vive o impasse de oferecer mais do que o padrão culto, que tem se revelado insuficiente, e nem é necessário buscar dados do Ministério da Educação para observar isso. As pessoas saem da escola sem saber interpretar textos e sem jogo de cintura para comunicar-se fora das situações a que estão acostumados. Isso ocorre porque estudar gramática para muitos, é perda de tempo, nada mais enganoso. Para compreendê-la são necessários perseverança e manejo constante da língua, sobretudo sua modalidade escrita, na qual a norma culta se faz mais evidente. Nesta perspectiva, a gramática é uma serva da língua e não sua modeladora.
A gramática criou uma variante linguística de pessoas mais estudadas sem deixar de ser ética, porque quando o contexto se impõe, ela recua. A gramática nessa condição evita o mundo a virar uma torre de Babel já que a humanidade é prepotente.
No país com um acentuado número de desigualdade onde o professor não é fortalecido e a classe média empobrecida não só de dinheiro, mas de cultura, educação e saúde, sai às ruas.
Necessitamos de uma escola que pense globalmente e atue localmente, para oportunizar aos seus cidadãos capacidade de fazer uma leitura de mundo e contribuir para a sustentabilidade do planeta. Cresce a necessidade de capacitar as pessoas à flexibilidade: é necessário fazer-se entender (pelos mais diferentes interlocutores) saber se virar nos mais distintos gêneros e situações de comunicação, menos monitoradas até às que exigem alto cuidado no manejo de um padrão, como provas escolares, disputas por vagas no mercado, mensagens a uma massa de gente que não conhecemos. Como ocorre na mídia e na política, participação em concursos e vestibulares.
Construções gramaticais fora do padrão têm sua lógica interna ou histórica e cabe ao especialista no idioma explicá-los â sala de aula e ao público. Noves fora, o desafio é estabelecer o lugar de todas as variedades nesse imenso latifúndio que é a linguagem.