Artigo

Seu Vitório

Lembro-me com saudade e alegria de seu Vitorio. Fomos amigos e vizinho durante muitos anos. Seu Vitorio era alto, forte, moreno e careca. Viveu do oficio autônomo da fabricação de bica. Foi um homem sem escolaridade, honesto, trabalhador e muito simples.

Quando se tornou meu vizinho, seus filhos já estavam todos criados. Na sua casa viviam ele, a sua esposa e o seu filho caçula, João Pereira Barbosa. Fui amigo de João, com quem tive uma convivência saudável, durante muito tempo.

Foi na casa de seu Vitorio que conheci um cardápio delicioso. Tudo vinha do trabalho da sua irmã dona Generosa e do Hotel Odete. Dona Generosa foi cozinheira do hotel, por muitos anos. Da economia que ela fez, veio o dinheiro para seu Vitorio comprar a casa vizinha; do Hotel Odete vinha a comida deliciosa à qual me referi: a canga de galinha.

Não conto quantas vezes degustei esse prato maravilhoso. O tempero e o caldo da galinha, com o arroz que adoro, deve ter me dado um ganho de peso significante. Não sei com quantos quilos eu fiquei, mas pelo que consumia, devo ter ganho e não mantido o peso. Naquela época eu não me preocupava com as consequências da obesidade.

Seu Vitorio gostava de pescar. Muitas vezes chegava do Rio Cachoeira com a sacola cheia de peixe. Era bom mergulhador. Conseguia ficar debaixo d`água quase quinze minutos. Para a idade que ele tinha, – sessenta e oito anos – era uma pessoa de muita resistência. Mas pegava mais peixe com a tarrafa que fazia, do que com qualquer outro instrumento de pesca.

A família de seu Vitorio passou por momentos difíceis. Antes que eles se mudassem para a vizinhança, seu Vitório foi internado, por ser portador de distúrbio psiquiátricos. O diagnóstico não foi preciso, mas ele passou muito tempo por lá. Nessa época, a sua esposa teve que trabalhar na casa de Dr. Ubaldino Brandão, como doméstica, para ajudar na criação dos seus filhos.

A única paixão de seu Vitorio, depois de Lú, como ele chamava a sua mulher, era o Vasco da Gama. Não perdia um jogo do seu time de fé. Só de quatro em quatro anos, se ligava noutro time, que era a Seleção Brasileira.

Durante os quatros anos, seu Vitorio não desligava o rádio, torcendo para do Vasco da Gama. Quando o Vasco colocou Roberto Dinamite no time principal, seu Vitorio vibrou. Se o Flamengo tinha Zico, o Vasco contava agora com Roberto Dinamite, fazendo seu Vitorio comemorar:

– Rooberto!, Rooberto, menino do pé bom! – gritava.