Artigo

Itabuna, 111 anos: e daí? E agora?

Itabuna comemora seus cento e sete anos de emancipação política e administrativa. Mas, ainda guarda em si grandes disparidades. Lamentavelmente, Itabuna ainda exibe suas enormes diferenças socioeconômicas e culturais. No entanto, a priori, o que chama atenção, é o fato de que prevalece a cultura da esperança, em lugar da cultura da mudança e da ação efetiva.   

Explico-me: Itabuna consegue referir-se a si mesma como a cidade que “já foi” muito melhor. No entanto, atualmente (ou pelo menos nos últimos vinte cinco anos!), não consegue mais manter-se tão altiva, quanto se auto-intitulava. Chegamos, afinal, aos cento e onze anos, mas, e daí? E agora, o que faremos por Itabuna? Essas indagações, em parte, me lembram uma canção de Caetano Veloso (“Podres poderes”): “Será que esta minha estúpida retórica, terá que soar, terá que se ouvir, por mais zil anos?!” 

Sim, eu e muitos outros itabunenses de nascimento e/ou de coração participamos do Centenário (2010) da cidade. E naquela ocasião, compus até um “Hino à Itabuna” para homenageá-la: Itabuna tua história altaneira / Na luta do teu povo estampada / Tu jamais te deixaste abater / Orgulhosa da vitória conquistada! / Marimbeta que acolheu o pioneiro / Do teu chão a primeira flor brotou / Abristes fronteiras de além-mar / Teu fruto dourado abençoou! / Teu começo foi duro feito pedra / Da labuta na terra veio a glória / Vigorosa cidade do cacau / – Terra querida, oh, povo sem igual! / Teu Rio Cachoeira nos reserva / A História que corre sem parar / Como és linda, Tabocas, tão briosa / Como és forte e não cansas de lutar / És tão bela, Itabuna, pujante e majestosa!

Contudo, à parte meu pretensioso desejo de que aquela homenagem retratasse uma fração da história de Itabuna, no contexto daquelas exaltações do Centenário, é preciso refletir a cidade, criticamente. Por exemplo: é preciso entender que a história de Itabuna não foi feita unicamente por aqueles que hoje dão nome às ruas, às praças e aos edifícios mais imponentes. E assim, portanto, devemos ir além do que simplesmente contar a história oficial dos “desbravadores” e/ou de sua elite. É preciso também superar a ideia generalizada (construída pelos interesses daquelas elites) de que Itabuna já deu e dá oportunidades iguais para todos. Por isso, não há porque fazermos de conta que as luzes dos fogos de artifícios não são artificiais! Por isso também devemos estar muito mais atentos ao que efetivamente queremos para Itabuna.

É muito importante indagar, insistir e perguntar: as desigualdades sociais foram minimizadas? Que importância a cidade dá à sua cultura? Quais são as ações transformadoras propostas pela Câmara de Vereadores? Por que o cacau foi esquecido, especialmente, após a vassoura-de-bruxa? A Educação, a segurança e a saúde pública não deveriam ser prioridades? Por que não há espaço de lazer em Itabuna? Qual o papel da sociedade civil organizada itabunense para melhorar nossa cidade? Como pensam os empresários de Itabuna, ou os de fora, frente à capacidade de investimento do município? Por que Jorge Amado tornou-se popularmente um “filho de Ilhéus”, mesmo não tendo nascido lá? O que fazer para melhorar os Índices de Desenvolvimento Humano municipal? Por que não se realizam “Semanas da Cidadania”, regularmente, para possamos discutir os problemas e as soluções da cidade?

No magnífico livro do poeta e escritor Telmo Padilha (1930-1997), “Canto de amor e ódio a Itabuna”, somos convidados a pensarmos Itabuna em toda sua multiplicidade. E é lá que encontramos uma declaração de amor à cidade, ao mesmo tempo crítica e pertinente: “Itabuna, minha terra, eu te amo (…) desde a distante infância te contemplo com olhos de partida, e, contudo fiquei”.

Enfim, chegamos aos cento e sete anos de emancipação político-administrativa, mas e daí? E agora?