Artigo

O voo do jegue

O moço que entrou na loja de Flavio material de construção, depois de tratar dos motivos que para lá o levara, encontrou-se com um ex-colega de trabalho e contou-lhe esta história.

                              Enquanto João iniciava a sua narrativa, Flávio foi vencido pela curiosidade e ficou ao lado deles, escutando a conversa. Tanto João como o seu interlocutor gostava muita de roça e cada um tinha uma pequena propriedade.

                              João começou falando sobre as dificuldades que tivera como proprietário rural. Referiu-se primeiro ao material humano, assim como as suas relações, criticando as leis trabalhistas que as tutelam. Tratou também do custo que tivera com toda a sua infraestrutura, iniciando pela reforma da sede e de todos os imóveis existentes na área, assim como do investimento para a implantação de determinada cultura e do custo do material para a criação de gado, com o objetivo da produção de grãos, de carne e de leite.

                              Quando se referiu a cerca elétrica e a cancela que pusera na sede, lembrou-se deste fato inédito e triste. É verdade que fizera tudo para aquilo não acontecer. Mas não teve jeito. Um jegue que sempre passava na estrada, naquele dia veio desesperado. Pareceu até que a pílula azul havia sido feito para ele e que tinha tomado todas as doses de uma caixa com 60 comprimidos. Não bastava a atração doentia que sentia pela jumenta, que naquele momento se encontrava do lado de dentro da cerca. Tudo indicava que era vítima de um longo jejum sexual, como também ter usado aquele poderoso estimulante afrodisíaco. O jegue relinchava e pulava, tendo o seu pênis ficado duro, grande e vermelho, como se fosse um poste pegando fogo.

                              Até parece que a jumenta lhe dera o ar da graça. Quem sabe piscou os olhos ou lhe mandou beijinhos. O jegue, apesar do seus 300 quilos, voou sobre a cancela, como se fosse uma pássaro, aproximando-se da sua presa. Tudo fora tão rápido a ponto de nenhum dos dois perceber a presença de um pitu, que reagiu como se estivesse faminto e traído, abocanhando o saco do jegue, fazendo-o defecar e mijar de tanta dor. O jegue deu dois peidos seguidos e sentou-se sobre o cão, como que vencido pela tragédia. Mas foi só um tempo para se recompor e reagir misteriosamente. As mesmas asas que o fez voar, colocando-o para dentro da cerca, como não foram atingidas diretamente pela mordida do cão, o fez decolar para o lado de fora, deixando rastro de sangue sobre a terra, na mesma direção e distancia por cima percorrida.

                         O dono do jegue, assim que soube do ocorrido, correu para lá. O jegue vinha e ele ia, mas não se encontraram durante o percurso, porque havia duas estradas para os mesmos destinos e eles tomaram caminhos diferentes. O desencontro deles poderia ter consequências mortais. O dono do jegue, ao invés de cuidar dele, que estava gravemente ferido, se envolveu com questões secundária do referido fato:

                         – O que foi que houve?

                         – Um jegue pedófilo pulou a cerca, querendo fazer sexo com a minha jumenta.

                         – Você sabe o que é pedofilia?

                         – Pedofilia é um dos tipos de crime. Ocorre quando um adulto tenta ou faz sexo com um menor de idade.

                          – Você sabe qual a idade do jegue?

                          – Não. Mas pelo aspecto físico dele, deve ser um animal adulto.

                          – Mas mesmo assim não houve crime de pedofilia.

                          – Por que não houve crime de pedofilia se todos os seus requisitos foram preenchidos?

                          – Porque o principal requisito não foi preenchido; esse fato só é crime, se for praticado pelo ser humano e não pelos animais.

                          O dono da jumenta calou-se diante daquela explicação. Parece que não sabia direito o que era pedofilia. Lembrou ao dono do jegue que este fugiu, perdendo muito sangue. Levou-o ao lugar onde tudo aconteceu e lhe pediu que retornasse, seguindo aquelas manchas vermelhas deixadas pelo chão, para reencontra-lo logo, porque o animal dele poderia estar correndo perigo de vida.

                              O dono do jegue retornou por aquela estrada vermelha. Não parecia com um rio, mas com um pequeno córrego de sangue.  A cada passo que dava sentia que o jegue, se já não estivesse morto, teria desfalecido e se afogado, naquela poça do sangue que havia perdido. Quando se aproximou dele ficou pasmo, diante daquela cena inexplicável. O jegue agonizava nos braços da jumenta, que fora objeto sexual do fato ocorrido.