Artigo

Maravilhosa aeronave!

Parecia uma das maravilhosas aeronaves fabricadas pela Embraer. Linhas modernas, bem turbinada, andava como se estivesse flutuando, fazia com que nos sentíssemos no céu e, qualquer um desejaria fazer um passeio aéreo dentro daquela beldade. Um verdadeiro avião!

Essa era a linda mulher, com seus vinte e seis anos, que morava no meu edifício no apartamento quinhentos e dezoito. Morava sozinha, mas não precisava de companhia, pois ela valia uma multidão de mulheres. Secretária executiva, sempre bem trajada, perfumada e provocante, parecia um Boing quando estava no alto dos sapatos de saltos gigantescos. Sinceramente, era tudo que alguém poderia desejar para fazer um constante passeio turístico nas asas desse jatão feminino!

Eu, morador da cobertura, com meus sessenta anos, industrial aposentado, meio gordinho, careca, nada tinha que pudesse de alguma forma entusiasmar aquela mulher. A não ser, claro, ser aquinhoado com uma boa grana, ser viúvo, não ter filhos, etc., sendo então um homem que, uma mulher inteligente, gostaria de investir. Sempre nos encontrávamos no elevador, nos cumprimentávamos com certa seriedade, mas, com o tempo comecei a perceber que ela estava me dando mole, talvez aterrissar na minha careca privilegiada e asfaltada de dólares. Lógico que senti seu interesse, mas, por ser puta velha e experiente, sei que nesses casos o que vale é seguir a nobre oração de S. Francisco: É dando que se recebe!

Um belo dia a convidei para jantar em um restaurante da moda, daqueles que os pratos são pequenos, mas, os preços são enormes. E, pelo flerte que estávamos tendo, ela aceitou tranqüila e cheia de dengos. Saímos, jantamos, tomamos um bom vinho de safra privilegiada, procurando entusiasmá-la como sempre fazemos quando queremos conquistar e mostrar que somos melhores que os nossos concorrentes “barriguinhas de tanquinhos” que, quando muito, levam elas para comer hot-dog ou churrasquinho de gato!

Posso dizer que foi uma noite agradável, nos despedimos com um beijinho na face, mas, se eu quisesse, teria rolado algo mais. Porém, não quis ser afobado fazendo check-in na primeira viagem. Continuamos saindo, começamos a namorar, passamos a ter um caso, então ela entregou o AP que morava e pertencia a um tio e, como morava em NY, ela tomava conta do imóvel na sua ausência. E passou a morar comigo, deixou o trabalho atendendo um meu pedido, pois minha condição financeira permitia muito bem, passamos os dois a curtir as delícias da vida, com viagens, passeios, saídas, eventos, etc., não tendo queixas de nada que nos perturbasse.

Ela continua uma maravilha, temos dois filhos, um com doze anos que tem traços nipônicos e, curiosamente, é a cara do japa do trezentos e quatorze, e o outro caçula é lindo com olhos verdes, cabelos cacheados e, por conhecidência é parecidíssimo com o italiano do quinhentos e dezessete. Os dois são umas gracinhas!

Agora para me chatear, um amigo meu veio, cheio de pudores e preocupações me dizer que ela me engana e transa com outros. Que eu deveria procurar uma mulher da minha idade para realmente morar comigo. Eu, prontamente, respondi: Prefiro comer pudim com os outros, que comer merda sozinho!