Entrevista

Entrevista com o Grande Inspetor Litúrgico da 3ª Região Litúrgica da Bahia, José Carlos Oliveira

“Nosso Município conta com mais de 200.000 habitantes e cerca de 300 maçons”

O entrevistado desta edição do jornal DIREITOS é José Carlos Oliveira, 33º, advogado militante, Grande Inspetor Litúrgico da 3ª Região Litúrgica da Bahia, membro ativo e regular das Augustas e Respeitáveis Lojas Maçônicas Areópago Itabunense e Acácia Grapiúna, sediadas em Itabuna, praticantes do Rito Escocês Antigo e Aceito, filiadas à Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia (GLEB). Ele discorrerá, entre outras coisas, sobre os objetivos da maçonaria, a não aceitação das mulheres em seus quadros, bem como o lançamento da pedra fundamental do templo da 3ª loja maçônica de Itabuna – Acácia Grapíuna, ocorrido no último dia 14 de agosto, com previsão de conclusão em maio de 2011.

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DIREITOS – O que é a maçonaria? Quais são os seus objetivos? E quem pode compô-la?

José Carlos Oliveira – Inicialmente, meu caro amigo Vercil, quero, mais uma vez, agradecer-lhe a oportunidade de, falando sobre maçonaria, participar de tão expressivo meio de comunicação que é o jornal DIREITOS.

Por definição, Maçonaria é uma instituição que tem por objetivo tornar feliz a humanidade pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pela igualdade, pelo respeito à autoridade e a crença de cada um. É universal, não tem preconceito de raça, cor nem religião.

Proclama a crença em Deus, a quem denomina Grande Arquiteto do Universo. Vale ressaltar que a prática da tolerância, preconizada pela maçonaria, não significa tolerância com a injustiça social nem o abandono ou enfraquecimento de convicções pessoais. Mas sim, respeito, aceitação e reconhecimento à rica diversidade das culturas do nosso mundo; às formas de expressão e maneiras de ser; é reconhecer a harmonia na diferença; é aceitação do direito do livre conhecimento; de comunicação; de liberdade de pensamento; de consciência e de credo; é não imposição de nossos pontos de vista aos outros; é, sobretudo, uma atitude ativa, preparada pelo reconhecimento dos direitos humanos universais e liberdades fundamentais dos outros.
Para fazer parte da maçonaria exigese que o candidato seja livre e de bons costumes e que tenha condições de arcar com o ônus correspondente à sua filiação. A liberdade exigida é que o candidato não seja escravo de vícios.

DIREITOS – Por que essa ligação dos maçons com o bode? Um ateu pode ser maçon?

JCO – Segundo o escritor maçônico José Castellani, a origem desta denominação data do ano de 1808. Por volta do ano 36 vários Apóstolos saíram pelo mundo, a fim de divulgarem o cristianismo.

Alguns foram para o lado judaico da Palestina. E lá, curiosamente, notaram que era comum ver um judeu falando ao ouvido de um bode, animal muito comum naquela região. Procurando saber o porquê daquele monologo, foi difícil obter resposta até que Paulo, o Apóstolo, conversando com um Rabino de uma aldeia, foi informado que aquele ritual era usado para expiação dos erros. Mas por que o bode, quis saber Paulo? – Como o bode nado fala, o confesso fica seguro de que seus segredos não serão revelados, respondeu-lhe o Rabino.

No início do século XIX, na França, os inquisidores prenderam vários maçons, submetendo-os a torturas. Certo dia um inquisidor chegou para seu superior e disse-lhe: “Senhor, esse pessoal parece o bode, por mais que os flagele nada dizem”.

Daí em diante os inquisidores passaram a chamar todos os maçons de bode. A maçonaria dá liberdade ao maçon para contestar o que bem entender, com exceção de um princípio que ela considera absoluto: A EXISTÊNCIA DE DEUS, a quem denomina Grande Arquiteto do Universo. Por esta razão o ateu não poderá nela ser iniciado.

DIREITOS – No último dia 14 de agosto, com a presença do Grão Mestre Itamar Assis Santos, foi lançada a Pedra Fundamental de mais uma loja – a Acácia Grapiúna. A cidade estava precisando de uma 3ª loja maçônica?

JCO – Sim. Itabuna comporta até outras Lojas Maçônicas além das três já existentes. Nosso Município conta com mais de 200.000 habitantes e cerca de 300 maçons. Como sabemos que 1,6% por cento da população do Brasil tem condições de pertencer à Maçonaria, Rotary e Lions. Como estas três instituições somam, em nossa cidade, apenas cerca de 500 pessoas, ainda estão sobrando 2.700 pessoas. Se destas tirarmos 1.700 mulheres ainda sobrarão 1.000 homens, dentre os quais não será difícil buscar candidatos para a formação de mais duas ou três Lojas Maçônicas. Quanto ao Templo da nova Loja, a Acácia Grapiúna, sua conclusão está prevista para 2011 e pretendemos que seja, se não o maior, mas um dos mais bonitos da Bahia.

DIREITOS – O Senhor acredita que, em um breve espaço de tempo, a exemplo de outras instituições, o Rito Escocês Antigo e Aceito permitirá o ingresso de mulheres em seus quadros?

JCO – Já existem Lojas Maçônicas Femininas, inclusive no Brasil. Contudo os tradicionais Ritos Maçônicos, a exemplo do Rito Escocês Antigo e Aceito, que praticamos, não aceita a iniciação de mulher.

Como as constituições ocidentais e de todos os povos que proclamam a igualdade de direitos entre homens e mulheres, estas passaram a ocupar os mesmos espaços e cargos que os homens onde assim se proclama. O Rotary, por exemplo, que vinha resistindo à entrada de mulheres em seus quadros, quedou-se em 1989, quando da tri anual reunião de seu Conselho de Legislação em Singapura. Com o Rito Escocês Antigo e Aceito, acredito, será uma questão de tempo, porém, para tanto, terá que haver demonstração de interesse da quebra desse tabu pelas mulheres.