Notícia

O saudosista

Rilvan Batista de Santana

O saudosista, sustenta que “o passado define o caráter do indivíduo, influi no presente e projeta o futuro”, diz mais: “o homem que não tem saudade do seu passado distante (infância, adolescência e juventude) não tem alma”. O homem equivale uma árvore, o passado é sua raiz, o tronco é seu desenvolvimento físico e psicológico, os galhos suas escolhas, as folhas são as vidas aparentes e os frutos suas produções.  O significado do passado é diferente para cada indivíduo, porém, a saudade da primeira fase da vida do homem é igual.

Os problemas existenciais do homem existiram, existem e existirão em qualquer fase da vida. Se me fosse dado o direito de definir o homem, leitor, diria que enxergo no homem um problema, isto é, cada pessoa é um problema de solução definitiva: a morte. A diferença do problema do passado com o problema atual é que o problema do passado foi solucionado ao longo do tempo e o problema atual potencializa solução sempre, nem sempre agradável. Quantas vezes ouvimos alguém dizer:  “eu era feliz e não sabia”.

O prazer humano e a felicidade não estão nos palácios, nas casas de luxo, nos carros de último modelo, nos helicópteros, nos iates, no poder político, nas riquezas acumuladas e no dinheiro. O prazer humano e a felicidade estão nas coisas simples, terrenas e espirituais. Quem não guarda na memória distante um banho de riacho? Um passeio a cavalo?  Trepar numa árvore para pegar uma fruta? Olhar o Sol se esconder no horizonte? Jogar uma pelada num campo de várzea? Tomar banho de lama sob uma chuva torrencial? Olhar as ondas do mar depois de sentir a areia nos pés? São prazeres dos primeiros tempos que ficam para sempre na alma do homem.

As pessoas novas dizem que saudosismo é coisa de velho. Valorizar demais o passado não condiz com a vida moderna, com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Todavia, os idosos absorvem pouco e pouco esses avanços tecnológicos e científicos atuais sem se deixarem escravizar e esquecer o passado. Não se pode desprezar o IDH, porém, não se pode colocar embaixo do tapete o aumento de suicídios, de pessoas depressivas, de feminicídios, generocídios, de mortes violentas, de infanticídios, de estupros, de pessoas que recorrem às drogas para continuarem a viver, de poluição dos rios e dos mares, de desmatamento das florestas amazônicas, da poluição sonora e a poluição do ar.

O homem perdeu sua liberdade, as casas são fechadas com grades de ferro, as pessoas abastadas, financeiramente, contratam seguranças, os condomínios são fechados eletronicamente e os carros são blindados.

 Um tempo não muito longe (antes dessa tecnologia, dessa ciência contemporânea), o homem tinha liberdade de ir e vir, de prosear com o vizinho no terreiro, namorar no jardim, participar de um luau, cantar no meio da noite na janela de sua amada, dormir sem ser molestado por bandidos, não havia sequestro relâmpago, nem sequestro duradouro, nem as doenças infectocontagiosas atuais.  E, a quantidade de gênios da humanidade, em todas as áreas, que floresceram nos Séculos XIX e XX são incontáveis.

Na comunicação houve uma revolução no Século XXI. Com o advento da Internet, da informática, dos computadores, dos minicomputadores e dos smartphones, a comunicação escrita, a comunicação de voz e imagem, ela é feita em tempo real.  No entanto, esses instrumentos modernos de comunicação trouxeram mais malefícios que benefícios. É evidente que os meios simplórios de comunicação de antes, como carta, telegrama, redes telegráficas, hoje, são obsoletos e inviáveis, todavia, eram mais seguros e criativos.  

A comunicação moderna produz pessoas bitoladas com linguagem sumária, sintética, sem apego à gramática, à imaginação, à criatividade e à quebra de sigilo. A linguagem da Internet é um retrocesso cultural, o livro foi deixado de lado, não existe mais o hábito de leitura. Todas profissões têm seus programas específicos, basta fazer o download do programa e o sujeito será atendido.

As Redes Sociais aproximam pessoas, propiciam relacionamentos afetivos, promovem o comércio virtual, mas essas redes, também, têm perpetrados muitos crimes contra a vida, roubos de bens materiais, estelionatos e crimes éticos e de honra. As plataformas e os sites, muitas vezes, são mexidos pelos hackers que desviam contas bancárias e conversas de autoridades políticas e judiciais. Eles são capazes de desestruturar os softwares e os hardwares mais protegidos.

Por isso, a saudade daquele tempo inocente, que não havia a maldade de hoje, o jovem respeitava a sabedoria do velho e a autoridade dos pais. A família de pai e mãe era a base da sociedade.  Havia respeito pelo patrimônio do outro, ladrão só de galinha e a palavra era documento. Não se conhecia a palavra “corrupção” e as autoridades deixavam os cargos com o mesmo patrimônio que iniciou.

Não havia corrupção de costumes nem desvios de condutas. Quando alguém destoava do comportamento aceitável era alijado e desprezado pela comunidade e tinha de sumir!…  Ninguém conhecia cocaína, maconha, ecstasy, LSD, heroína e crack. Os únicos vícios inocentes eram uma cachacinha para almoçar, uma cervejinha e um maço de cigarros para pitar nos finais de semana.

Os desavisados podem pensar que o saudosista é um aficionado romântico pelas coisas e ideias do passado, não, o saudosista recorre ao passado para explicar o presente. O presente é injusto e o futuro obscuro. Antigamente, a mesa do pobre era farta, principalmente, se o sujeito fosse lavrador ou agricultor. Hoje, as riquezas se concentram nas mãos de poucos e, pobres e miseráveis são maioria na sociedade.

Enfim, não se pode tampar o Sol com a peneira, a tecnologia e a ciência avançam cada dia, porém, são incapazes de conter as endemias, as pandemias e as doenças crônicas. Raramente, o homem chega aos 60 anos de idade sem nenhuma comorbidade, a exemplo de: pressão alta, diabetes, câncer.  Portanto, porque não valorizar o passado? Se o passado é a nossa memória, é a nossa história e o nosso eu!

Por Rilvan Santana