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Sessão especial leva povo de santo para assembleia legislativa da Bahia

Concorrido evento foi idealizado por Maria Del Carmen (PT) para homenagear os 75 anos do Terreiro São Jorge Filho da Goméia e o centenário de Mãe Mirinha de Portão

O som dos atabaques dos terreiros de Candomblé e o branco dos trajes do povo de santo deram um clima todo especial ao plenário da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) na manhã desta sexta-feira (15). Tudo isso para homenagear os 75 anos do Terreiro São Jorge Filho da Goméia, localizado em Lauro de Freitas e o centenário de Mãe Mirinha de Portão, que morreu em 1989.

Ialorixás, egbomis, ekedes, ogãs e filhos de santo em geral compareceram em peso à sessão especial proposta pela deputada Maria del Carmen (PT). Mas não só as presenças dessas figuras emblemáticas do culto afro revelaram a importância da homenagem ao terreiro, o primeiro a ser tombado como patrimônio cultural. Um grande número de autoridades também fez questão de prestigiar no evento na ALBA.

Dentre elas, a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Ângela Guimarães; a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho; a diretora-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural, Luciana Mandelli; a presidente da Câmara de Vereadores de Lauro, Naide Brito; o pároco da Igreja do Rosário dos Pretos, Padre Lázaro Muniz; dentre outras autoridades.

Do Candomblé estiveram presentes personalidades não menos importantes. Dentre elas, a ialorixá Jaciara Ribeiro (Terreiro Abassá de Ogum), a ialorixá Márcia de Ogum (Terreiro Ilê Axé Ewá Olodumare), Tatá Ricardo (Terreiro de Lembá), Ebomi Nice (Terreiro Casa Branca), além de mameto Kamurici, neta de Mãe Mirinha e líder religiosa do Terreiro São Jorge Filho de Goméia.

Proponente da homenagem, Maria del Carmem contou um pouco da história do Terreiro São Jorge Filho de Goméia. “Esse local de resistência e resgate das tradições de matriz africana começou pelas mãos de Altamira Maria Conceição Souza, a nossa saudosa Mãe Mirinha de Portão”.

De acordo com a deputada, a história de Mãe Mirinha com o Candomblé começou desde pequena quando, de forma escondida, pulava as janelas para assistir a algumas festas. “Mas foi a sua irmã Claudina que a levou em um terreiro, a casa do pai de santo João Alves Torres Filho, o famoso Joãozinho da Goméia”. Aos 12 anos ele foi iniciado.

“Com filhos e filhas de santo espalhados pelo mundo afora, Mãe Lirinha é uma mulher que sempre se mostrou à frente do seu tempo e que se tornou um ícone de devoção, solidariedade e amor ao próximo”, prosseguiu Maria del Carmen, em seu discurso. Ela lembrou que o “amor e admiração” pela sua comunidade a fizeram participar das adaptações cinematográficas de seu amigo Jorge Amado – “Pastores da noite”, “Tenda dos milagres” e a “Morte de Quincas berro d’água”.

Emocionada, a neta de Mãe Mirinha agradeceu a homenagem e destacou a importância do povo de santo ocupar este espaço da Assembleia Legislativa. “O candomblé é uma religião do povo trazido, mas também somos um povo que tem cultura, culinária, vestuário próprio, dança, religião. Se prestarem atenção vão ver que o candomblé é uma religião de matriz africana, mas também é uma religião brasileira, porque ela se faz e se constitui aqui e ela vem para nos reconectar por conta de todas atrocidades cometidas contra nós”, disse mameto Kamurici.

Para a secretária de Promoção da Igualdade Racial é importante reconhecer a importância do terreiro “para preservação a memória ancestral, preservação e continuidade dos valores civilizatórios africanos de nossa cultura e sua imprescindibilidade para manter população negra de pé lutando contra violência racismo intolerância religiosa”, afirmou Ângela Guimarães.

Também presente na sessão, a deputada Olívia Santana (PC do B) observou que essa homenagem acontece num momento muito difícil que o povo de santo tem enfrentado na Bahia e lembrou a perda “terrível e dramática” com o assassinato da líder quilombola,  Mãe Bernadete. “Por isso é tão importante ver uma mesa tão representativa com representantes de diferentes nações do candomblé. Que esta seja de fato uma casa aberta ao seu povo, que tem a cara da Bahia e constrói a resistência no dia a dia”.

Já a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, afirmou que, para além das funções de um tempo do culto afro religioso, o Terreiro São Jorge Filho da Goméia diversas outras funções na localidade de Portão, com o desenvolvimento de atividades de geração de emprego e renda e também cultural, com o Bloco afro Bankoma, único fora de Salvador a desfilar no maior Carnaval do Brasil. (Ascom ALBA)