Notícia

Lá vem ele

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Falta pouco! O cometa 3I/ATLAS vai chegar o mais perto possível da Terra nesta sexta-feira (19). No momento da aproximação máxima, o visitante interestelar estará a cerca de 270 milhões de quilômetros do planeta, uma distância considerada segura, muito além da órbita da Lua.

(Informação achada no Google, hoje:

https://olhardigital.com.br/2025/12/18/ciencia-e-espaco/cometa-interestelar-3i-atlas-se-aproxima-da-terra-nesta-madrugada/)

         Pois é… A comunidade dos astrônomos amanheceu assanhada. Há meses, o assanhamento começou. Lá vem ele, o 3I/ATLAS. Do que se trata? É um cometa que vem de fora do nosso sistema solar. Nosso? Que pretensão. Passará a milhões de distância da Terra. Isso, porém, não se constitui problema algum, pois já foram desenvolvidos poderosíssimos telescópios eletrônicos e pelos quais nada escapa aos olhos dos astrônomos de hoje.

         Para além disso, drones poderosíssimos, sob forma de verdadeiros laboratórios siderais, apelidados de satélites artificiais, devastam as entranhas do Universo. Por isso mesmo, ainda que não se saiba a origem do visitante, sabe-se, com segurança que ele não faz parte do sistema solar.

         Outra coisa: já foi revelado que a composição de sua rocha contém vários elementos químicos incomuns a demais cometas já estudados e conhecidos, através dos tempos. Então, cumpre perguntar: A que se deve a gentileza de tal visita? Que carga de energias vem aspergindo semelhante andante? Será uma sonda dos deuses, disfarçada de cometa, para  saber a quantas anda a nossa humana gente, criaturas suas? Será que já desconfiaram que a alardeada semelhança não deu certo.

         Quem tem rabo preso que se segure, pois eles quando se aborrecem ou se arrependem costumam fazer chover fogo e enxofre. Ou então, fazem chover durante quarenta dias e quarenta noites para afogar os viventes que poluem o planeta. Só se salvará quem estiver recolhido na arca, construída sob rigorosa padronagem, ditada por eles. Lá pelas bandas do sul e sudoeste do país, o pau já está quebrando, debaixo da coberta da doida.

         Qual será a versão pós-moderna de tal arca? No caso particular nosso, será o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio da Alvorada? Ou os de lá, além de nossas fronteiras políticas, os Estados Unidos? A Rússia? A China? E os que serão abandonados, esquecidos, rejeitados, por serem considerados cópias defeituosas da semelhança, fabricada no Éden, na noite perdida dos tempos? Venezuela, Estado Islâmico, Hamas, Ucrânia? Entre nós: assalariados, favelados, traficantes, assaltantes, políticos corruptos, moradores de rua, consumidores de drogas e outros?

         Pensando nisso, foi que me veio a ideia, até banal. Procurar alguém que seja próximo dos astrônomos para conseguir uma corona para eu embarcar no cometa, na viagem sonhada para fora do sistema solar. Pronto: aí, conforme já venho dizendo há 22 anos,  desde a publicação de meu livro versoREreverso, no meu poema Liberdade,

LIBERDADE

Ainda porei as mãos em ti,

ó Liberdade!

Será após construi-la em mim,

tijolo por tijolo,

pedaço por pedaço,

emoção e sentimento,

ponto, linha, traço.

Aí, voarei pelos espaços

do meu mundo

e farei amores nos espaços

da opressão daqueles

que nunca viram nem sentiram

tuas asas, ó Liberdade!

E vou sorrir, sonhar, viver:

você comigo;

eu com você.

(Do livro versoReverso. Ilhéus: Editus, 2003. p. 81)

Itabuna, dezembro, 19, 2025

Ruy Póvoas

Professor e Membro da Academia de Letras de Ilhéus, cadeira 18